domingo, 25 de julho de 2010

A silhueta do jornalismo que virá




por


Marcelo Soares*

_ Não esconda o jogo, Aron. Pra que lado o New York Times está apostando que vai o jornalismo, nesse cenário de convergência?

_ Sei lá, minha bola de cristal é tão boa quanto a sua. Mas a chefia vai liberar um orçamento pra fazer experiências.

Numa noite do verão londrino de 2007, depois da terceira ou quinta garrafa de vinho entre jornalistas numa pizzaria, após um curso de jornalismo investigativo do Centre for Investigative Journalism, eu tentava persuadir Aron Pilhofer a me dar as chaves da compreensão das mudanças do jornalismo. O editor de bancos de dados do mais fascinante jornal do mundo, o jornal que melhor se adaptara à convergência digital até então, devia certamente ter uma carta na manga. Até tinha; só não tinha certezas.

O jornal acabara de oferecer ao meu novo amigo a chance de formar uma equipe – integrando jornalistas, programadores e designers – e criar uma espécie de laboratório digital. Eles integrariam bancos de dados, a área de expertise do Aron, com visualizações fascinantes. Adaptariam conteúdo multimídia – excelentes textos, fotos de cair o queixo, vídeo, áudio – a isso. Inventariam inclusive novas e à primeira vista estranhas formas de fazer jornalismo.

(Os que gostam de empregar seu tempo debatendo se “blog é jornalismo”, ou se “twitter é jornalismo” poderiam reformular a pergunta: “tag cloud é jornalismo?”. Aron e seu grupo de “cybergeeks renegados”, como a revista New York classificou a equipe, provaram que sim, é possível fazer jornalismo com tag clouds – só depende de como você as usa.)

Já havia algum tempo que o Times fazia podcasts em áudio. O jornal também criou o obituário em vídeo, com entrevistas ultra-secretas em que algum personagem admirável, já em vias de extinção, contava em primeira pessoa a história de sua vida. O primeiro dessa série foi o do humorista Art Buchwald, que já começava dizendo: “Olá, eu sou Art Buchwald e acabo de morrer!”. Outros entrevistados estão na fila, com o jornal apenas aguardando suas mortes.

Isso subvertia a compartimentalização das mídias que tínhamos em mente no final do século passado, quando entrei na faculdade. Um aluno que queria se dirigir para o impresso, por exemplo, não via utilidade nas aulas de TV e rádio. Era gostoso ter certezas dessas, especialmente porque elas davam um nobre pretexto para cabular aula e tomar um cafezinho lendo Gay Talese. O problema é que a internet – então uma coisa lentíssima que acessávamos em XTs com letrinhas verdes – acabaria por provar, em uma década, que essas certezas eram míopes. Sim, alguns diziam que ela viria a integrar tudo. Mas parecia um futuro distante.

Quando entrei na faculdade, em 1995, arrumei um emprego como contínuo num jornal centenário de Porto Alegre, o Correio do Povo. Como tal, convivia com todos, do diretor de redação aos operadores das rotativas – e, com isso, pude acompanhar uma transição fascinante. Quando entrei, as páginas ainda eram compostas em pestapes – placas de acrílico onde se colavam textos e fotos – para depois fotolitar. Para publicar uma foto de arquivo, precisava do boy para buscar a pasta de fotos, levar ao editor, entregar a escolhida ao diagramador, transportar a foto indicando dimensões para a fotocomposição e, meia hora depois, recolher o resultado para o pestapista colar com cera quente. Em menos de dois anos, quase tudo isso podia ser feito em segundos apenas por um profissional em seu terminal.

No Brasil, os computadores estão presentes nas redações desde 1983, quando a Folha de S.Paulo inaugurou seu uso. Nos anos seguintes, eles se espalhariam pelas redações brasileiras causando alguma polêmica: simbolizavam uma mudança no modo tradicional de fazer jornalismo. Verdade que era uma tradição de poucas décadas. Mas, ainda assim, era tradição.

Durante um longo tempo, todo o debate sobre os usos jornalísticos do computador se centrava em uma questão: o texto. O computador era usado como pouco além de uma máquina de escrever com luzinhas. Nas revistas especializadas dos anos 80 e início dos 90, como Imprensa e Revista de Comunicação, invariavelmente os textos que tratavam do assunto suspiravam de saudade das laudas, do som das teclas da máquina de escrever ou lamentavam que o computador “estragou” a qualidade do texto ao provocar a demissão dos revisores de provas tipográficas. Muitos profissionais excelentes demoraram anos a perceber outros usos possíveis para a máquina. Oportunidades de treinamento em reportagem com o auxílio do computador abertas a jornalistas em geral só começaram a surgir no país a partir de dezembro de 2002, com a criação da Associação Brasileira de Jornalismo investigativo.

As empresas, enquanto isso, viram na informática uma maneira de pôr no mercado produtos impressos feitos com mais eficiência, menos profissionais intermediários e melhor acabamento. Um jornal dos anos 80, hoje, parece um tijolão se comparado até mesmo aos mais desengonçados jornais que existem hoje. A forma como foram incorporados os recursos da informática à produção gráfica colocou o Brasil no mapa da excelência em design de notícias, com prêmios internacionais reconhecendo jornais como o Correio Braziliense, diversas vezes premiado pela Society for News Design.

Em técnica de reportagem, porém, continuamos tendo muito a desenvolver.

Noutras paragens, os jornalistas perceberam há mais tempo a utilidade dos computadores para a apuração. Desde a década de 1960, quando os computadores eram operados com cartões perfurados, alguns pioneiros já entrevistavam dados com o auxílio da informática. Esses dados podiam ser dezenas de entrevistas com uma amostra cientificamente selecionada de entrevistados para encontrar as causas de revoltas raciais, como fez Philip Meyer em 1967. Podiam também ser todas as ocorrências policiais do condado de Dade, em Miami, onde o repórter Clarence Jones chegou ao ponto de conhecer mais do que a polícia sobre os padrões de crime da cidade, em 1970. Podiam ser decisões judiciais, como as que Don Barlett e James Steele analisaram em 1971 para ver se, condenados por um mesmo crime, um réu negro e um réu branco tinham muita diferença na pena à qual eram condenados (adivinhe só).

A partir do final dos anos 80, a tendência foi ainda mais longe. E foi aí que tudo começou a ficar mais interessante. A principal associação de jornalismo investigativo dos Estados Unidos, a Investigative Reporters and Editors (IRE) criou em 1989 uma divisão especializada em treinar jornalistas para o uso do computador como ferramenta de apuração, o National Institute for Computer-Assisted Reporting (NICAR).

Aron Pilhofer, meu companheiro de taças em Londres, foi um dos instrutores da IRE nos anos 90. Também especializou-se em analisar bancos de dados de doações eleitorais, quando trabalhou no Center for Public Integrity. Era o homem certo para a doce tarefa de comandar o laboratório do futuro do New York Times. E vinha na época certa, também.

Pela primeira vez, a disponibilidade de banda larga nas casas dos leitores e inovações como o YouTube permitiam integrar diversas formas de conteúdo. O acúmulo de experiência e pressão da sociedade desde que os Estados Unidos criaram sua lei garantindo o direito de acesso a informações públicas, em 1966, ampliada em 1996 para incluir dados digitais, tornara disponíveis terabytes de dados sobre como o governo se organiza. Havia tecnologia e dados para serem moldados por ela. Agora, dependia de os profissionais arregaçarem as mangas.

Um campo e uma época diferentes do jornalismo atual ilustram o papel que as condições de um dado momento têm sobre as mudanças que podem ocorrer em áreas da criação humana.

Em 1959, portanto há meio século, o bebop ainda era um estilo musical popular, mas os próprios músicos se sentiam limitados pela forma. Para complicar ainda mais, alguns dos mais queridos músicos de jazz estavam morrendo. Em pontos diferentes dos Estados Unidos, diversos músicos de repente resolveram experimentar com novidades. Com isso, foram gravados vários dos mais ousados discos de jazz de todos os tempos.

   -   Em duas sessões, em março e abril, o trumpetista Miles Davis reunia um sexteto para gravar o disco “Kind of Blue”. Eles nunca haviam ensaiado juntos antes e sequer havia partituras das composições. Miles apenas entregou aos seus músicos – que incluíam o saxofonista John Coltrane – uma escala, explicando que desejava improvisar sobre ela. O resultado é um dos discos mais aclamados da história.

   -   O pianista Dave Brubeck começava com “Time Out” uma série de experiências com o compasso das composições, ou seja, o ritmo que elas devem seguir. Em temas como “Blue Rondo A La Turk”, Brubeck chega ao extremo de pôr cada um dos instrumentos aparentemente tocando em um compasso diferente – e funciona muito bem.

   -   Charles Mingus gravava “Mingus Ah Um”, em 5 e 12 de maio. Suas composições se baseiam em estruturas tradicionais do blues e do gospel, homenageando também músicos mortos como Charlie Parker, Duke Ellington, Lester Young e Jelly Roll Morton – mas, ao mesmo tempo, avançando em relação à tradição.

   -   Ornette Coleman levava a experimentação a maiores extremos no disco cujo nome mais parecia um manifesto: “The Shape of Jazz To Come” (A forma do jazz que virá). Coleman abusa das dissonâncias, criando o jazz de forma livre.
Todos os caminhos estavam abertos. Tudo podia ser feito, dependendo apenas da competência e criatividade dos profissionais envolvidos.

O jornalismo, hoje, se encontra em um momento bastante semelhante. Se, por um lado, os jornais impressos vivem uma longa crise nos Estados Unidos, há um boom de entidades independentes e meios de comunicação tradicionais experimentando para tentar descobrir qual será a forma do jornalismo que virá.

As tentativas podem ocorrer em experiências calcadas no jornalismo tradicional, mas inovando na forma e profundidade, como faz o New York Times – quase um “Mingus Ah Um” do jornalismo. Pode ser pela profundidade e apuro técnico de um Center for Public Integrity em seus múltiplos projetos – quase um “Kind of Blue”. Pode ser por meio da organização cerebral de dados brutos, como fez Adrian Holovaty em seu Everyblock – quase um “Time Out” jornalístico. Ou mesmo a cacofonia da Web colaborativa e dos agregadores de conteúdo, uma espécie de “The Shape of Jazz to Come” da era da informação.

É ocioso discutir, neste ponto, qual dessas formas é “mais certa” do que a outra. Qualquer previsão a respeito tende a ser furada pelas circunstâncias. Híbridos de pedaços de uma e pedaços de outra podem acabar surgindo, e gradualmente se chegará à nova gramática da informação. Ou não, como aconteceu com o jazz – até hoje, a sua essência é a pluralidade.

No Brasil, há ainda poucas experiências de radicalidade comparável à do New York Times em termos de como tratar a informação para a nova realidade. As redações comemoram a saúde financeira dos jornais impressos e lamentam que seus websites não atraiam receita suficiente para serem comercialmente viáveis. Na verdade, as tiragens que crescem são as de jornais populares, baratos, consumidos por novos leitores que antes não liam e que provavelmente não adquiriram o hábito de se informar pela internet. Mas ainda vai chegar o momento em que uma parcela considerável da população estará conectada à internet via banda larga.

As iniciativas mais interessantes de informação jornalística usando a internet têm vindo de onde menos se espera. Em 2006, veio de uma ONG, a Transparência Brasil, a iniciativa de reunir num só banco de dados todo tipo de informação pública disponível na internet sobre os deputados que se candidatariam à reeleição (tive a honra de coordenar a implantação do projeto). Um mês após a estréia, a Folha de S.Paulo repetiu em seu website parte da iniciativa. Em 2008, um coletivo independente de jovens jornalistas de São Paulo produziu um trabalho de reportagem multimídia que se tornou referência nacional. (Um dos jornalistas envolvidos, Rodrigo Savazoni, também coordenou no jornal O Estado de S.Paulo, naquele ano, um banco de dados apresentando os candidatos a vereador da maior cidade do país.)

É natural que, diante de um cenário de mudanças, o ser humano sinta insegurança e apreensão. Ocorre, porém, que neste caso existe uma pressão criativa e econômica sobre as formas tradicionais de jornalismo. O jornalismo precisa se adaptar à tecnologia, mas sem perder seus valores centrais: a disciplina da verificação, a depuração, o interesse público.

Por mais que as formas tradicionais de jornalismo nos sejam tão queridas quanto a música de Charlie Parker e Billie Holiday, o jornalismo que virá já está começando a tomar forma – e quem vai lapidá-la serão as gerações de jornalistas que se criaram acostumados a ver o computador mais como um eletrodoméstico do que como um instrumento da ficção científica.



* Marcelo Soares é Repórter de política da MTV Brasil e colunista do jornal MTV Na Rua. Antes da MTV passou madrugadas em redações de jornal, ajudou a criar a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, ganhou um prêmio Esso por montar um banco de dados de políticos e tomou um cafezinho no shopping center construído onde um século atrás foi a casa de seus tataratios, no sul da Suécia.Owner do blog E você com isso ?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Whuffie!! ou Quem paga a conta ? *

Tornar-se famoso na rede...mesmo não sendo ninguém.
Como? Whuffie man!!



por
Cris Dias¹ feat. Gilmar R. Silva²


Penúltimo dia da Campus Party e aqui estou vestindo uma camisa escrito “Free Rick”, com uma caricatura do cantor rei dos ternos com ombreira dos anos 80, Rick Astley. Eu não paguei pela camisa, ganhei porque alguém acha que eu tenho muito whuffie. Você quer uma camisa? Também não precisa pagar. O pessoal que bolou os desenhos estampa sua camiseta de graça em troca de você sair por aí com ela. O que ela ganha? Whuffie.


Pense como a web 2.0 não tem, tecnologicamente, nada revolucionário. Sites
interativos, banda larga, webcams, microfones... Tudo isso somado, mais o cada vez maior número de usuários de internet fez surgir uma coisa que precisava de um nome: Web 2.0. Já o Whuffie é outra coisa que não é necessariamente nova mas ficou tão comum que precisava de um nome. Alguém sugeriu “capital social”, mas vamos concordar que whuffie é muito mais sexy.


O termo foi cunhado pelo escritor canadense Cory Doctorow no seu livro de ficção-científica “Down and Out in the Magic Kingdom”, de 2003. Ele conta como num futuro próximo a tecnologia do nosso mundo avançou tanto que duas coisas centrais na nossa sociedade deixaram de existir: a escassez e a morte. Por mais que lhe maltratem você nunca vai morrer. Por menos que você se esforce você sempre terá casa, comida e roupa lavada. O dinheiro, que é a manifestação física da economia de escassez, perde o sentido num mundo onde todo mundo pode ter tudo. Num mundo sem dinheiro, um mundo onde todo mundo pode ter tudo, o que as pessoas desejam?


Aquilo que o dinheiro não compra. É claro que Doctorow não estava sonhando com um futuro distante. Ele estava falando do presente, exagerando na lente como os escritores de ficção-científica adoram fazer. Não vivemos hoje na Bitchun Society, o nome pós-capitalista dado para a nova maneira de viver, mas já fazemos muita coisa parecida. (O livro está disponível gratuitamente para download, o que ajudou a divulgar todo o seu trabalho e o transformou em um dos blogueiros mais influentes do mundo).


Um termo que empresários e economistas adoram repetir é “comoditização”. Vivemos num mundo comoditizado, onde abrir uma estamparia de camisetas é tão barato que é melhor pensar em outro negócio ou um chinês com uma tela de silk-screen no quintal de casa vai lhe colocar para fora do mercado. No mundo comoditizado ou você cria algo realmente exclusivo e desejado, como um iPod, ou simplesmente dá seu produto de graça. Só que no mundo do whuffie você não vai simplesmente dar camisetas de graça, você vai trocar por whuffie. A comoditização do mundo está derrubando na marra a idéia de que escassez gera capital, simplesmente porque é cada vez mais difícil criar escassez. Lembra do chinês? Veio a tal web 2.0 (que, lembre-se, é só um rótulo para facilitar a vida de gente escrevendo textos como esse) e o ditado do “informação é poder” foi derrubado. Quando eu cresci este era o lema do mundo, papai ensinava: “consiga o máximo de informação, guarde para você e use a seu favor”.


Acho que o pai de alguém na geração seguinte esqueceu de contar isso e em algum ponto a informação começou a circular numa velocidade enorme, invertendo a lógica.
Caiu “você é o que você tem” e entrou no lugar o “você é o que você compartilha”.


Em um mundo sem escassez a economia passa a ser a da gift economy, dos presentes, do dar-e-receber que atinge uma escala tão grande que deixa de ser mera troca de favores. Um fazendeiro que planta laranjas no Brasil torce para que um furacão destrua os laranjais da Flórida. Quanto menos laranjas no mundo mais dinheiro no bolso para quem tem a fruta. A gift economy é a economia do “abraço grátis”, aqueles malucos com cartazes no meio da rua abraçando quem se candidatar. Quanto mais abraços eu der, assim de graça mesmo, mais felicidade eu e a pessoa abraçada ganhamos. E não precisa ser só abraço. Pense em uma comunidade de fotos, como o Flickr: um fã de fotografia já adora tirar fotos. Ele tira milhares de fotos por ano. Se ele mandar estas fotos para o site, vai receber feedback, vai ser reconhecido, vai ser chamado para participar de eventos... vai tornar a rede mais forte, vai favorecer pessoas que ele provavelmente nunca vai conhecer para ser “pago de volta” (pelo menos diretamente). Já a foto não compartilhada, guardada na “gaveta” não geraria valor nenhum nem para ele nem para ninguém, porque não há escassez de fotos para deixá-la mais cara quando um furacão destruir todos os fotógrafos de Cuba.


É claro que a economia do whuffie não é perfeita. Ela ainda é usada por seres humanos com suas falhas e problemas. Nela, por exemplo, continua valendo a máxima de que “dinheiro chama dinheiro”. Whuffie chama whuffie. Pessoas com mais whuffie recebem destaque, são convidadas para eventos, são citadas em artigos... chamando para si e para seu trabalho a atenção de outras e, com isso, ganhando mais whuffie. A diferença é que o conceito de “celebridade” se fragmenta e deixa de ser uma coisa exclusiva de astros globais e estrelas do esporte para se espalhar pelas comunidades e turminhas, diminuindo a distância entre as pessoas e fazendo com que elas percebam que, no fim das contas, somos todos pessoas comuns.


E isso serve pra você jornalista. Uma pessoa comum. Na Era Digital um menino de Bangladesh mesmo sem a estrutura de um grande veículo de comunicação pode ter mais whuffie que você. A Internet junto de outras tecnologias móveis trouxeram consigo a ascensão dos amadores. A informação que o seu jornal quiser cobrar uma hora ou outra será disponibilizada em pdf ou até mesmo produzida por alguém e disponibilizada gratuitamente.

Quer dizer então que ninguém mais está disposto a pagar por informação. Exato. O jornalista André Forastieri, editor da Movie, questionado sobre quem pagaria a conta do jornalismo no lugar dos leitores pontuou:

“ Por que não vamos pagar? Porque ninguém nunca pagou. Quando você compra um televisor, espera ver TV de graça. Quando você compra um rádio, espera ouvir rádio de graça.
Assinatura de jornal custa R$ 30,00 por mês, o que mal cobre o custo de impressão. O leitor nunca pagou pelo conteúdo. Ou pagou uma carquerinha de nada que não cobre o custo de produzir o conteúdo.
Sempre haverá um ou outro cara disponível a pagar alguma coisa por conteúdo jornalístico, se for alguma coisa que seja muuuito importante pra ele. Mas preferimos que alguém pague no lugar da gente. E isso não vai mudar.”


Por outro lado jornalista, nunca houveram tantos leitores como hoje na internet. Gente sedenta por informação, seja ela do poderoso NY Times ou do seu vizinho da Fazendinha. Para encantar esse leitor você vai precisar de Whuffie. Pra ganhar dinheiro com esse leitor você terá que descolar um anunciante ou uma instituição que tenha interesse nos seus leitores.

Está tudo mudando, os modelos de negócios da Mídia também. Uma das saídas defendidas por muitos é o crescimento inteligente (The Smart Growth) elaborado pelo consultor de Novas Tecnologias Umair Haque.

Para Haque o Crescimento Inteligente não é propulsionado pela venda de produtos e serviços. E ele só virá a acontecer por meio de empreendorismo e inovação radical constituindo no que ele chama de “venture economies”, economias empreendedoras. Que devem buscar resultados, não receita (“outcomes, not incomes”).

É comum cidades se acotovelarem para atrair grandes multinacionais, visando a geração de empregos e impostos. Uma cidade com um grande polo industrial é considerada próspera. Mas será mais viável ao Executivo num futuro próximo ou a médio prazo apostar suas fichas em pessoas de cárater empreendedor e inovador no lugar das grandes fábricas. Isso porque a economia do século 21 se dirige para lucros menores, mínimos, para as empresas. Ou talvez lucro nenhum. Empresas de tecnologia como Skype, Amazon, YouTube, Twitter e Google não cobram tanto quanto o mercado suporta pagar. Cobram o mínimo que dá: Nas palavras de outro especialista, Tom Evslin, “a única saída é ter sua margem tão próxima do zero quanto possível. Assim, qualquer concorrente terá que aceitar prejuízo para brigar com você.” O futuro reserva menos receita para as grandes empresas por consequência menos postos de trabalho. Na era digital tão importante quanto ter um polo industrial gerador de receita e empregos é ter um polo de pessoas alinhadas ao padrão de mercado que vem se desenhando, pessoas que mesmo diante de um mercado onde o grátis é quase uma regra, consigam promover e viabilizar economicamente produtos e serviços, e o mais importante gerarem postos de trabalho.

Agora se realmente ninguém irá pagar por produtos e serviços é uma incógnita. Mas que menos pessoas estarão dispostas a pagar já é realidade, a derrocada da imprensa escrita e da indústria fonográfica comprovam isso. E se o amigo leitor, aspirante a jornalista, quer uma dica, aposte no novo, experimente maneiras diferentes de divulgar notícias, crie valor e o mais importante faça com que as pessoas gostem de você.
E lembre-se das palavras de Haque: “A corrida pelo Crescimento Inteligente é inevitável. A pressão para isso - o potencial para criação de valor- em um mundo que está sendo estraçalhado pela destruição de valor - é simplesmente forte demais.”


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.

¹ Cris Dias começou a programar computadores lá pelos 9 anos de idade, em um CP-500 e um TK-85. Na hora de entrar para a faculdade pensou em fazer desenho industrial mas acabou indo para a boa e velha informática. Mas a essa altura ele já era o que iriam chamar alguns anos depois de “profissional multimídia”. Em 2003 abriu a Vilago, uma empresa de hospedagem de sites. Por volta de 2005 começou a brincar de fazer podcasts.
Daí nasceu o RadarPOP Uma coisa levou a outra e começou a participar do podcast Brain-cast, do site brainstorm9.com.br. Hoje em dia é o CEO do Vilago e Produtor Executivo do enxame.tv, iniciativa de produção de vídeo online.

Twitter: @crisdias


² Gilmar R. Silva é Jornalista especializado em cultura digital e Educador em Áudiovisual, Novas Mídias e Cibercultura. Owner da Laranja Pontocom e entusiasta da cultura pop, da cultura digital, da cultura livre e da cultura DIY(faça você mesmo).

Twitter: @Gilmar_

Twitter ou A diferença entre o que você está fazendo e o que está acontecendo *

O que está acontecendo?

por

Fábio Seixas¹ feat. Gilmar R. Silva²


Uma palavra, dez palavras, 140 caracteres, uma foto, um vídeo, um link, às vezes, apenas uma letra ou um emoticon. Basta isso para se fazer existir no universo do micro-blogging. Basta apenas um suspiro de idéia transformada em pequeno texto e compartilhado com o mundo através de qualquer-que-seja-o-dispositivo-eletrônico-à-sua-frente. Basta um mini- insight e uma janela para a web.


É assim que acontece o micro-blogging, que nada mais é do que uma faceta diminuta de um blog tradicional, onde, ao invés de elaborarmos longamente nosso conteúdo, simplesmente cuspimos o que passa por nossas mentes sem antes criticá-lo. Micro-blogging é como blogar numa casca de nós, cabe muito pouco e ainda assim cabe muita coisa.


O Twitter foi o precursor, aquele que definiu o conceito, as novas possibilidades e a nova forma de irrigar o mundo com conteúdo. Permitiu que uma verdadeira legião de programas, sites e mash-ups pudessem proporcionar formas diferentes de publicar e interagir com a quantidade colossal de mini-conteúdos já disponível nesse pequeno, e crescente, universo. Já se percebe que ao redor dessa plataforma se forma uma economia própria, onde ela própria é o início e o fim, o meio e o objetivo.


Febre recente que ainda nem atingiu o mainstream e que ainda irá pegar o mundo de jeito, seja quando você entrar na sua cozinha e sua geladeira twittar uma idéia de receita para o jantar ou quando seu namorado te pedir em casamento publicamente. Bem, isso já nem é algo inédito.


No início, você dirá que micro-blogging é algo bobo e idiota, algo sem sentido. Normal. Nove entre dez pessoas pensam assim ao ver o Twitter pela primeira vez. Mas não se acomode, em pouco tempo irá perceber o poder dessa plataforma.


Mesmo Evan Willians, o criador do Twitter, não se deu conta do poder de sua ferramenta ao criá-la. Em seu lançamento, o site do passarinho azul trazia a pergunta “O que você está fazendo?” Respostas como “estou indo para a academia” ou “Estou brincando com meu cachorro” eram comuns ( e ainda são ) entre os usuários. No entanto, hoje lemos no site a seguinte pergunta “O que está acontecendo ?” E a troca da pergunta faz toda diferença, sobretudo para os jornalistas, que ao seguirem os chamados "nós de conhecimento" do conectivismo, ou seja, pessoas antenadas, em destaque ou inovadoras nas mais diferentes áreas, aumentam suas chances de obter boas informações.


Porque de nada vale aos jornalistas seguirem aqueles que ainda vêem o Twitter como uma ferramenta para postar o que comeram no almoço ou algo do tipo. Esse é o espírito do “O que você está fazendo?”, dispensável para o jornalismo. Cabe ao jornalista seguir as pessoas certas, aquela que realmente vão lhe dar pistas e dizer o que está acontecendo de novo, interessante ou importante no mundo.

Agora escolha a sua interface para esse mundo, monte sua rede de seguidores e comece a truncar seus pensamentos em frases de até 140 caracteres.


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.


¹ Fábio Seixas é empresário e analista de sistemas pela PUC-Rio. Possui 13 anos de experiência em projetos e empresas de Internet, já tendo passado por empresas como iBest, Comunique-se, Tessera Internet e WeShow. Foi um dos criadores do Prêmio iBest e fundou sua primeira empresa de comércio eletrônico em 1997. Atualmente é sócio-diretor da Camiseteria.com

Twitter: @fseixas


² Gilmar R. Silva é Jornalista especializado em cultura digital e Educador em Áudiovisual, Novas Mídias e Cibercultura. Owner da Laranja Pontocom e entusiasta da cultura pop, da cultura digital, da cultura livre e da cultura DIY(faça você mesmo).

Twitter: @Gilmar_


Ética hacker e jornalismo*

imagem via techcats



por

Dalton Martins¹ feat. Gilmar R. Silva²


Muito se conta, muito se fala sobre ética. Ética nas ações, nas palavras, nos pensamentos, nos gestos e atitudes. Essa palavra aparece em jornais, notícias, reportagens e projetos.

Chega até um certo ponto ser um termo gasto entre tantas interpretações e usos que são

bem pouco compreendidos ou aplicados em ações práticas. Eis que ontem, no Campus Party, me pediram para escrever um pouco sobre ética hacker. Fiquei pensando em como

falar sobre isso e, sinceramente, a melhor forma que encontrei é falar da forma como um hacker age, de que exemplo ele dá a partir de sua forma de ver o mundo.

O hacker tem um jeito de ser, tem um foco, tem um interesse. Gosta de vivenciar desafios e gosta de aprender com seus próprios limites. Mas, um ponto que diferencia fundamentalmente o hacker de outras pessoas que também gostam de desafios é que o hacker utiliza uma parte significativa do seu tempo documentando e compartilhando a forma como ele conseguiu vencer um desafio e, dessa forma, permite que outras pessoas possam aprender com suas descobertas. É uma atitude que possui em seu Dna um desejo íntimo de construir um mundo a partir de uma inteligência coletiva, a partir da colaboração entre as diferentes formas que as pessoas possuem de resolver seus problemas.

Dessa forma, um hacker é também um contador de histórias dos mitos e das magias que ele desvenda em sua maneira de se apropriar da tecnologia, de dar significado a ela e de inspirar o aprendizado em outras pessoas que possuem interesses semelhantes ao caminho que ele vem percorrendo. Essa maneira de se apropriar da tecnologia é também uma forma essencialmente prática de encarar a vida: descobrir problemas, encontrar soluções, documentar processos e compartilhar de forma livre na rede com as outras pessoas.

Parece bastante simples, mas é necessário haver uma atitude no meio de tudo isso para que o processo funcione: é preciso não ter medo de compartilhar o que se aprendeu, é preciso não ter receio de abrir informações, é preciso acreditar que a inteligência coletiva pode levar a construção de novas possibilidades de convivência e de experiência de mundo melhor do que a competição pura e simples permitiu até hoje.


E essa atitude já está agregando novos adeptos, mesmo em ambientes profissionais marcados pela competição como o jornalismo.

É característico na imprensa o egocentrismo e até mesmo um certo pretensiosismo de alguns profissionais, por terem acesso a pessoas importantes e informações em primeira mão. Sem falar no orgulho descabido de alguns ao verem seu nome atrelado a um furo ou uma entrevista exclusiva. Mas a postura hacker vem mudando esse posicionamento. A realização deste e-book, por exemplo, só foi possível devido a colaboração gratuita de profissionais de destaque na mídia brasileira alinhados a idéia do jornalismo colaborativo. Outros bons exemplos de jornalismo colaborativo são o site coreano OH MY News e o site brasileiro Overmundo. As notícias veiculadas nestes sites são construídas de maneira coletiva, por meio de wiki pages, os dois sites possibilitam que outros usuários atualizem ou corrijam uma informação postada por outra pessoa. O coletivo sobrepõe-se ao egocentrismo.


E isso não significa que o crédito da atividade intelectual seja mal visto ou coisa rara no mundo digital. Veja o caso do Retweet no Twitter, a maioria dos usuários ( jornalistas inclusos ) gastam cerca de 10% dos seus 140 caracteres com o RT: @Fulano ou por @Fulano , via @Fulano . A apropriação sem dar crédito não é regra, a gentileza para com o outro usuário (jornalista) sim.


E é esse tipo de atitude que podemos e devemos promover entre os jornalistas como sendo uma ética hacker!


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.

¹ Dalton Martins é um dos articuladores do MetaReciclagem e designer de redes so­ciais. Colabora com a Coordenadoria de Tecnologia Social da Escola do Futuro na USP e desenvolve o WebLab.tk, que pesquisa, desenvolve e implementa tecnologias, metodolo­gias e processos de colaboração para o estímulo da aprendizagem e inovação. Atua em projetos que buscam mapear e identificar redes sociais emergentes a partir de estruturas de comunicação livres.

Twitter: @dmartins

² Gilmar R. Silva é Jornalista especializado em cultura digital e Educador em Áudiovisual, Novas Mídias e Cibercultura. Owner da Laranja Pontocom e entusiasta da cultura pop, da cultura digital, da cultura livre e da cultura DIY(faça você mesmo).

Twitter: @Gilmar_

terça-feira, 20 de julho de 2010

Muito além do Rádio Convencional

Home page esperta do Programa Trip FM, transmitido em 480 cidades brasileiras




por
Alexandre Potascheff *



A criação do rádio e a realização de transmissões radiofônicas revolucionaram a comunicação no início do século 20 e, durante muitos anos, o rádio foi um dos principais meios de informação e diversão da sociedade.

Hoje, com a criação e popularização da internet, existe um questionamento sobre o futuro do rádio e da televisão. A meu ver, assim como o rádio sobreviveu à disseminação da televisão, ambos têm tudo para continuar atuando como importantes ferramentas de comunicação.

Mais do que isso, a internet pode e deve funcionar no sentido de promover e ajudar a construir a programação da rádio.

Se antes a abrangência de uma rádio se limitava ao poder de transmissão de sua antena, ao alcance de suas ondas de rádio, hoje ele pode ser “sintonizado” em qualquer local do mundo, desde que sua transmissão aconteça, também, via internet.

Se antes os ouvintes tinham que passar horas pendurados ao telefone para pedir sua música favorita, mandar perguntas a seu ídolo, ou mesmo participar de promoções (algo frequente no universo do rádio), hoje eles podem usufruir da internet para facilitar esse contato. E as rádios devem aproveitar essa facilidade para criar mais canais e aprofundar a comunicação com seu público, que deve participar e colaborar ativamente na construção do conteúdo.

A internet é uma excelente ferramenta de comunicação. Ela aproxima pessoas que compartilham interesses, ideias e paixões e abre um importante canal de conversa tanto entre essas pessoas quanto entre estas e as empresas. Cabe às últimas aproveitar essa via e estimular a colaboração de seus consumidores para aprimorar seus produtos e serviços. Em relação ao rádio, seja ele convencional ou on-line, não é diferente e a equação é simples. Quanto mais a rádio promove a participação do público, mais esse colabora com seu conteúdo e mais adequado ele fica à sua audiência. Se antes era necessário fazer pesquisas de opinião pública, hoje ela está aí, à disposição de quem quiser acessá-la.

Vale citar aqui um importante segmento que nasce do casamento entre rádio e internet, que são os podcasts e rádios on-line. Se antes, para ter uma rádio, era necessário uma concessão pública, hoje você pode criar com muito mais facilidade uma rádio virtual, on-line, e produzir seu próprio conteúdo¹. E esse é um mercado que cresce rapidamente. Hoje muitas marcas criam em seus sites canais de áudio, com programação similar às rádios convencionais, mas que englobam notícias sobre a empresa, promoção de seus produtos e programação musical alinhada à imagem da marca. Esses canais podem funcionar como uma rádio convencional, com o conteúdo sendo transmitido via streaming, através do qual o internauta acessa a rádio on-line e escuta seu conteúdo à medida que ele é transmitido, ou no sistema de podcast, com o conteúdo sendo disponibilizado para download e atrelado a um feed RSS.

Assim, rádios e profissionais deste meio devem olhar a internet não como uma inimiga, não como uma ameaça, mas como uma aliada. Aliada que pode auxiliá-los a levar sua programação mais longe, a torná-la mais adequada ao seu público e a expandir sua atuação para além da transmissão radiofônica.

Os aparelhos podem mudar. A tecnologia de transmissão de dados pode ser outra. Mas o formato do conteúdo vai perdurar. Modificado pela colaboração do seu público, mas com a mesma essência que encanta os ouvintes há mais de cem anos.

¹ Embora a questão dos direitos autorais na internet ainda seja complicada e engatinhe, não esqueça de ficar atento!



* Alexandre Potascheff é Editor do programa TRIP FM

sábado, 17 de julho de 2010

Jornalismo é remix

Cultura remix, a ascenção do copia e cola


por
Leonardo Foletto e Marcelo De Franceschi*



A tal da recombinação não é nenhuma novidade, muito menos no jornalismo. Tanto nas técnicas empregadas quanto na dita produção de seu conteúdo, o processo jornalístico se caracteriza por ser múltiplo e heterogêneo. Um sem número de produções, sejam elas grandes reportagens ou pequenas notícias, já foram feitas tendo como base estudos e pesquisas realizadas nos mais diversos campos do saber. Ou seja, apresentações de novas informações, decorridas das transformações naturais, reajustadas às informações previamente existentes.

Como diz Nilson Lage, professor aposentado da UFSC e das figuras que mais entendem de jornalismo nesse país, a própria natureza do jornalismo requer recombinação. “Vejo o campo jornalístico como um campo próprio para a reutilização de conhecimentos de outros campos. Ele toma das ciências o que lhe convém”, disse o mestre em seu twitter (que vale e muito a pena acompanhar, www.twitter.com/nilsonlage). O jornalismo, comumente um saber do imediato e do singular, não tem condições de usar, de maneira aprofundada, o vasto e atemporal conhecimento das ciências. O tempo em que ele é praticado não permite essa extravagância, por assim dizer, muito embora deva se buscar ao máximo esse objetivo sempre que for possível.

O jornalismo toma das ciências aquilo que lhe é possível aplicar no tempo em que é feito. E esse possível é nada mais que uma pequeníssima parcela da filosofia aqui, uma outra da lingüística ali, um tantinho da lógica, outro tento de história e uma parcelinha de geografia (outras áreas podem ser utilizadas, a depender do assunto tratado; essas são as mais comuns). É do “remix” dos prévios conhecimentos dessas áreas combinados com a matéria-prima da qual vive o jornalista – a informação da atualidade - que vai ser produzido aquilo que sempre costumamos chamar de jornalismo.

A constante interpretação e atualização da informação já existente, e agora digitalmente mais acessível, tem se intensificado em frequencia, e ao mesmo tempo em desafio. É o que apontam outros pesquisadores e profissionais do jornalismo. Marcelo Trasel, professor da PUC-RS, cobriu via Twitter as palestras que assistiu durante o 1º Simpósio Internacional de Jornalismo Online. Durante uma delas, a do diretor de integração e especialista em bases de dados do iG, Rubens Almeida, Trasel disse, com algum sentido, que um dos desafios do jornalismo hoje é “atualizar dados em matérias antigas, que ficam disponíveis via buscadores” (#sijol sábado, 29 de maio de 2010 10:22:01 via Seesmic).

Com todas as reportagens, notícias e opiniões possíveis disponíveis na internet, a maior dificuldade do(s) jornalismo(s) existente(s) parece ser a de tornar este emaranhado de informação e opinião em algo singular. Algo que seja ao mesmo tempo atrativo ao leitor e importante para a sociedade. Que seja novidade, mas que também não se restrinja só em ser a mais-nova-informação-da-última-hora, e sim que traga um mínimo necessário de aprofundamento. O que, por sua vez, evitaria o afogamento na hipernovidade desprovida de qualquer sentido, um dos males tão ordinários hoje em nosso cotidiano recheado de links e esvaziado de significado.

Uma das formas que o jornalismo tem para usar a seu favor nestes tempos ultramodernos é, justamente, a recombinação. Se existe tanta coisa assim para nos informar e nos deixar perdido, então que aproveitemos esse contexto ímpar na história para o cruzamento enlouquecido de informações. Que com isso se busque significados que vão além da superfície e que se rompa as amarras da última novidade para propor uma ligação firme com a vida presente de cada um.
Para o jornalismo, a recombinação vale não só para a busca de informação exclusiva, ainda e por muito tempo só obtida através de fontes confiáveis, mas também para o cruzamento da informação que todo mundo tem com as mais variadas possíveis bases de dados. É claro que para isso acontecer um monte de outras coisas devem aparecer (formação adequada para o tratamento com bases de dados, informações públicas mais disponíveis e abertas a todos, iniciativas e financiamento para um trabalho jornalístico independente) e desaparecer (o preconceito de muitos com o maravilhoso mundo da informática, o comodismo das redações tomadas pelos critérios mercantis de noticiabilidade, a condição de assédio moral tomada como praxe em muitas redações).

Com tudo isso acontecendo (ou não), quem sabe não passamos a pensar na idéia que o escritor William Gibson trouxe num texto para uma edição da revista Wired (que posteriomente foi publicado no BaixaCultura): A gravação, e não o remix, é a anomalia hoje. O remix é a verdadeira natureza do digital. Em outras palavras: é a essência da comunicação dos nossos tempos. Nos arriscamos a dizer que o remix seria tão “natureza” do digital que nem mais haveria de existir uma distinção entre o próprio registro (objeto) e a recombinação (um processo). Tudo seria (e não é?) recombinação.

* Editores do http://baixacultura.org, página que concentra suas atividades na informação, divulgação e discussão de conceitos, acontecimentos e propostas ligadas à cultura livre.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Visualização de Dados e Jornalismo

Tráfego no site do NYT no dia da morte de Michael Jackson



por
Fernanda Viégas e Martin Wattenberg

A marca do bom jornalismo é a capacidade de tomar uma grande quantidade de informações e escolher apenas as peças que realmente importam. Às vezes, isso significa encontrar uma pepita preciosa, por exemplo, escolher um único indicador que resume a agonia de uma crise econômica. No entanto, há temas tão complexoS que nenhum número pode fazer justiça; temas, onde centenas de números são necessários para dar aos leitores contexto. E é aí que entra a visualização de dados.

Visualização de dados é uma tecnologia que transforma números em imagens interativas, tornando-os facilmente acessíveis e fornecendo contexto. Imagine que você gostaria de dar aos leitores uma noção de como o mercado acionário indo, setor por setor, empresa por empresa. Você teria que saber o preço das ações e o valor de mercado de cada empresa, como estes preços estão se comportando (eles estão indo para cima ou para baixo? Por quanto?), E que as empresas pertencem a determinados setores. São centenas, senão milhares, de números. Nos velhos tempos (há uma década!) os jornais impressos traziam tabelas enormes desses números, geralmente com a fonte muito pequena, tamanho o número de informações.

Estas páginas eram uma espécie de cemitério da informação: embora os leitores se esforçasssem individualmente, eles não tinham como ter uma visão mais abrangente. A tecnologia da Visualização de dados permite que você "pinte" um retrato do mercado de ações mostrando todos esses números de uma vez. Martin Wattenberg fez exatamente isso em 1999 quando criou o Mapa do Mercado, uma visualização ao vivo na web , baseada em todas as empresas listadas na Nasdaq:



Aqui está uma captação possível: O Mapa do Mercado mostra centenas de empresas de capital aberto. As que estão em alta no mercado são verdes, os perdedores estão em vermelho. Empresas semelhantes ficam posicionadas próximas umas das outras, formando uma espécie de mapa do tempo da notícia financeira.

Você pode estar pensando que isso é material especializado, servindo apenas para cobrir os mercados financeiro e notícias econômicas. Mas não. Pode-se apurar de tudo, de guerras e catástrofes naturais à cultura pop, com visualização de dados. O New York Times é provavelmente o líder neste segmento, atualmente, e emprega mais de 30 pessoas em seu departamento de gráficos. A equipe tem liberdade editorial para produzir os seus próprios artigos que abrange uma vasta gama de assuntos, desde a guerra do Iraque até a morte de Michael Jackson. Estas visualizações permitem que os leitores interpretem melhor uma notícia , indo além da leitura simples de um artigo . Em uma visualização recente sobre Michael Jackson, por exemplo, os leitores puderam ver o top hits do rei do pop ao longo do tempo e compará-lo com os top hits de outros artistas como Beatles e U2. Esse tipo de visualização contextualizava a produção musical de Michael Jackson e ilustrava para o leitor o quão importante ele era no mundo da música pop.






No Brasil, alguns jornais já trabalham com a Visualização de Dados. O Estadão tem visualizado assuntos pesados como assassinatos nas grandes cidades, bem como temas mais otimistas como o desempenho histórico do Brasil em Copas do Mundo. Ao contrário do NY Times, o Estadão trabalha com gráficos criados por uma equipe da redação e de terceiros. E utilizar ferramentas de visualização de terceiros é algo recente. Disponíveis gratuitamente na web, ferramentas como o Many eyes e o Public Tableau foram projetados para permitir que qualquer pessoa possa fazer o upload de dados, visualizar e compartilhar gráficos interativos de graça na rede. De posse dessas ferramentas os jornalistas agora podem trabalhar suas informações lançando mão de diferentes opções , podendo experimentar e entregar aos leitores histórias com riqueza de dados de uma maneira mais fácuil de interpretar. Isso porque as plataformas de visualização são fáceis de usar, não requerem habilidades de programação ou que o profissional tenha uma vasta experiência em tabelas ou cáculo.


Se você resolver criar uma visualização de dados a partir do zero , você encontrará uma variedade de opções técnicas, como softwares. Entre eles o Processing, um conjunto de bibliotecas Java, construído para fazer gráficos interativos de programação mais acessíveis. O Flash uma outra escolha popular para criação de projetos interativos e bibliotecas como o Flare . E finalmente, Javascript o queridinho de hoje em dia porque ele é executado todos os browsers, assim como em plataformas móveis como o IPAD, da Apple.

Se você se interessou pela visualização porque os governos estão cada vez mais abertos, disponibilizando dados de maneira transparente ou porque você gostaria de dar aos leitores uma experiência mais profunda do que uma simples narrativa, saiba que a visualização jornalística veio para ficar. Estamos apenas no início da exploração, no que diz respeito a contar histórias com a visualização de dados. E aí, como você vai ajudá-la a evoluir?


* Fernanda Viégas e Martin Wattenberg são os fundadores do Flowing Media. Antes de fundar a Flowing Media em 2010, Viegas e Wattenberg trabalhavam no Laboratório de Comunicação Visual da IBM. O software que criaram, o Many Eyes, foi o primeiro a colocar as ferramentas de visualização avançadas, nas mãos de uma audiência geral. Sua visão de democratização da visualização fortaleceu jornalistas, empresários e cientistas quanto a contar histórias com os dados.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Produção Áudiovisual e Jornalismo

Imagem do Programa "Nós 3", produzido por Bruno Natal para o Multishow


por
Bruno Natal*


Antes reservado as expressões artísticas e publicitárias, sobre tudo pelo custo, o áudio visual é hoje uma forma de comunicação acessível e, cada vez mais, tão importante quanto a escrita. É indispensável ao jornalista atual ter domínio dessa linguagem, tanto para produzir quanto para consumir notícias.

Tendo a disposição ferramentas como câmeras digitais, celulares com câmeras e o YouTube, tornou-se possível realizar trabalhos de qualidade de maneira independente. Isso pode ser uma vantagem e uma desvantagem, dependendo da maneira que se deseja enxergar a situação. Obviamente, o simples fato de se conseguir criar e disponibilizar vídeos é um ponto positivo. Porém, certamente a concorrência aumentou, o número de trabalhos disponíveis é muito maior e é preciso se destacar para conquistar seu espaço.

Existem diversos saites com dicas e instruções para a realização de vídeos, assim como hoje existem TVs como a Current.TV que remuneram colaboradores por suas histórias. Com os baixos custos é possível também realizar projetos sem fins comerciais. Esses podem ser os mais importante, pois é experimentando as próprias idéias que conhecemos melhor nossas capacidades.

Na maior parte dos casos, certamente no jornalismo, a qualidade do conteúdo tem mais importância que o apuro técnico. Embora conjugar as duas coisas seja mais que desejável, já que um video bem acabado é também mais atraente, isso não deve servir de obstáculo e sim de motivação. Através da prática, da troca de experiências, desenvolve-se a técnica para se comunicar nessa era multimídia.

* Bruno Natal é jornalista e filmaker. Diretor do documentário "Dub Echoes" e colaborador do jornal O Globo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Redes Sociais e Jornalismo





por
Pedro Penido


A audiência está cada vez mais perto, mais ativa, mais exigente. Cada vez mais em harmonia com o ambiente da informação quando se fala em Internet.

A possibilidade de varrer a rede para se inteirar dos fatos força a transparência maior de quem produz informação em relação a quem a consome, mesmo que ainda se possa ver um grupo de grandes empresas e corporações de mídia tentando nadar contra a maré.

As redes sociais potencializaram uma característica sempre presente na rede mundial de computadores: a participação, ou, ao menos, a possibilidade de participação.

Os fóruns e listas de discussão, desde os primórdios da Internet, já trabalhavam com novos modelos de disseminação de informação. Um dos pilares destes modelos é o alinhamento dos pontos emissores de discursos de maneira horizontal, ou seja, todos falam a partir dos mesmos parâmetros, estando subordinados às mesmas regras, exceto para fins de organização e moderação. Não há patamares que estipulem que tal grupo tem mais força e tal grupo menos força no desenvolver de suas mensagens.

Obviamente a estrutura dos fóruns e das listas oferece muitas opções para quem quer dar o seu recado, mas a organização deste conteúdo acaba criando a necessidade de níveis variados de moderação e controle. Novas propostas pulverizaram a moderação entre os participantes da conversa (os elementos componentes da estrutura informacional), descentralizando-a, como o faz o site SlashDot.net.

As redes sociais aproveitam este ambiente muito bem. Cabe aos seus desenvolvedores imaginar novas maneiras de dar voz ao público que buscam atingir. A gerência dos canais de comunicação, dos pontos de personalização, das opções de identificação (comunidades do Orkut, páginas do Facebook) e a estrutura de fazer a voz de um alcançar tantos outros.
Neste ambiente de novos falantes, novos emissores de conteúdo, novos agentes participantes na produção, moderação ou verificação da informação estão as grandes vigas que sustentam o sucesso das redes sociais.

Tal qual explicita seu nome, as redes sociais se multiplicam à medida que criam novas opções para o exercício de uma socialização mediada por computadores, mediada por aparatos tecnológicos que hoje tem um alcance até então inimaginável.

A necessidade de falar emana de quem se conecta à rede. As novas redes sociais abrangem esse universo quando oferecem os recursos para que cada um possa deixar seu recado, seja na velocidade da timeline, como no Twitter ou na integração de plataformas, como no Facebook.

E o jornalismo?

Antes estrategicamente localizado entre as fontes e a audiência, o Jornalismo agora encara novos desafios ao se inserir em um ambiente onde ele não tem mais peso na estrutura. Não existem patamares que o dêem um destaque natural.

O movimento dos blogs independentes, os “anônimos” que reúnem centenas de milhares de seguidores no Twitter, pessoas que exercem a comunicação em novos modelos, com novos métodos. Todos se misturam no ambiente onde o Jornalismo do século XXI precisa se inserir. E essa inserção demanda a compreensão da complexidade das relações em ambientes hipermidiáticos. Essa inserção exige a assimilação e a aplicação das novas tecnologias em desenvolvimento. Mas, muito além destas questões técnicas, precisa-se entender que a audiência tornou-se também produtora de conteúdo e começa a exercer o peso de sua influência na polarização dos discursos, na disseminação de informações e na reorganização das narrativas jornalísticas.

Nos moldes da Cartografia da Informação, o jornalista precisa também pensar e trabalhar a organização de múltiplas narrativas em linhas de leitura, trabalhando em conjunto com seu público prosumidor (produtor e consumidor de informações), na tarefa de dar sentido e forma ao caos informacional em explosão na Internet dos dias de hoje.

Veículos jornalísticos e jornalistas que se sustentarem nas velhas práticas do jornalismo pré-Hipermídia e pré-Social Media estão fadados a perder força em seus discursos e em sua própria presença online.


* Pedro Penido é jornalista e owner do Meio Digital

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Crítico na Era Digital

Marcelo Costa, crítico musical


por
Marcelo Costa


A internet matou a função do crítico, certo? Errado, embora alguns ainda acreditem que o crítico de arte, como o conhecíamos, está com os dias contados. Talvez, mas o mais provável é que ela adapte à era digital. O fato é que, num primeiro momento, a proliferação de blogs fez com que surgissem dezenas de milhares de pessoas dispostas a exercer a função de crítico (mesmo sem saber direito o que era ser um crítico). O rapaz vai ao cinema, vê o filme, volta para casa e escreve uma resenha. A garota ouve um disco e escreve uma resenha.

A função que antes era restrita a poucos profissionais que trabalhavam em jornais e revistas tornou-se popular da noite para o dia, e agora qualquer pessoa pode escrever um texto argumentativo analisando uma obra de arte, lembrando que a liberdade que a internet trouxe para quem quer expor opiniões é praticamente à mesma de quem poderá ler (e comentar/discutir) essas idéias. No geral, a qualidade da crítica encontrada na internet neste primeiro momento ficava entre o ruim e o razoável, embora fosse possível encontrar pequenas epopéias argumentativas que cumpriam melhor a função do que muito profissional da grande mídia. O cenário está mudando, no entanto. Muitos blogueiros que entraram na onda da crítica na web estão descobrindo que para brincar de ser crítico é preciso disciplina e dedicação, e o número de resenhistas de fim de semana parece diminuir – inversamente, a qualidade está aumentando. Pois após o boom da proliferação de blogs e críticos, em que todo mundo queria escrever (e escreveu), vivemos um momento de assentamento.

Ainda surgem novos espaços, mas a impressão é de que após um primeiro momento de desleixo textual, essa segunda leva de críticos de internet surge mais preocupada com a forma de se expressar, porque a função do crítico na era digital está muito mais próxima do leitor do que em qualquer outro período da história. Ele não está mais isolado. Por outro lado, ele está se adaptando ao novo mundo virtual, mas ainda é uma função ativa e de suma importância no mundo moderno. Pois na correria do dia-a-dia, muitos leitores necessitam de um filtro que o ajude a decifrar o oceano de informações que passa em sua frente ininterruptamente. Se tal filme é bom, qual exposição em cartaz vale à pena ir, qual disco ouvir entre os que são lançados todos os dias, qual peça de teatro ver entre tantas, que livro ler. Porém, mais do que um indicador de qualidade (como é comumente encontrado nas esquinas da internet), a função do crítico é refletir e contextualizar a obra de arte no espaço/tempo. Poucos fazem isso, mas apenas o fato de várias pessoas estarem usando a liberdade da internet para argumentar sobre a qualidade de uma obra de arte é uma conquista a ser festejada. A formatação dessa argumentação é o próximo passo. Ainda estamos engatinhando, mas estamos no caminho certo.


* Marcelo Costa é um leonino do segundo decanato com ascendente em touro apaixonado por cervejas belgas, cachaças mineiras, picanha ao ponto, mixto quente com salada e bacon, pipoca do Cinemark e tortinhas de morango.
Editor do Scream & Yell, coordenador de capa do iG, DJ eventual, cozinheiro de fim de semana e centroavante nos moldes do grande Geraldão. Escreve sobre romances e cultura pop.

Blog, o novo fanzine

O fanzine Scream Yell das antigas



por
Marcelo Costa*



O fanzine, uma revista (magazine) feita por um fã, surgiu no começo do século 20 tratando primeiramente de quadrinhos e ficção cientifica, mas sua popularização se deu no auge do movimento punk, época em que alguns jovens encontraram na folha de papel em branco um espaço importante para conversar com o mundo. E começou assim: fanzines mimeografados sobre música, que usavam a colagem como ferramenta e a criatividade como forma de arte. Eram distribuídos em shows, em locais de interesse comum (lojas, feiras, praças) ou mesmo enviados por correio criando uma rede de contato que se fortaleceu com o passar dos anos devido à divulgação boca a boca.

Porém, apesar de ainda hoje existirem vários fanzines de papel, o modelo viu seu espaço amplificado com o surgimento da internet, no geral, e dos blogs, em particular. No começo do século 21, dezenas de webzines (fanzines de internet) tomaram a rede difundindo informação. Eram revistas eletrônicas tentando abraçar várias áreas da cultura. O cenário agora parece mudado. A quantidade de webzines diminuiu, e a de blogs temáticos aumentou. Os blogs, que começaram sua história como um diário pessoal de cada pessoa (que usava a página em branco do Word para falar de acontecimentos do dia-a-dia), passaram a ter um direcionamento, e assim como um fanzineiro, os blogueiros passaram a usar as novas ferramentas de blogs para se dedicar a um assunto especifico. A pessoa deixa de escrever de acontecimentos do dia-a-dia (ou até escreve, mas em menores fluxos) e se dedica a refletir alguma paixão sua – exercendo a função de fã. Assim surgem os blogs temáticos que, num olhar mais profundo, começam a ocupar o espaço que era do fanzine, ou melhor, passam a ser o novo fanzine.




O site Scream Yell hoje


A pessoa usa aquele espaço para falar de algo que é fã, que admira. E na página em branco do Word começam a ser discutidas novas idéias, que podem abarcar o triunvirato da cultura jornalística (cinema, música, literatura), e se expandir para lugares sem nenhum controle. Uma pesquisa pelo Google pode nos dar uma pequena idéia da amplitude do alcance dos blogs: existem blogs dedicados à boneca Barbie, a moedas mundiais, a poesia parnasiana e a novelas mexicanas. Dezenas de blogueiros analisam corridas de automobilismo (com a Fórmula 1 sendo o tema da maioria, mas ainda há espaço para motos e outras categorias), quadrinhos, séries de TV, política (interessantíssimos em período de eleição), gastronomia (que além de receitas de pratos traz análises de restaurantes com boas dicas) e arquitetura. Três dos temas do momento parecem ser Moda, Cerveja e Viagens. A pessoa abre uma conta em um blog, por exemplo, para relatar suas experiências na Europa. É a folha em branco sendo usada como veiculo de comunicação com o mundo. Antes era uma folha em papel. Agora é uma folha numa tela de computador que assim que transposta para o blog coloca a pessoa em contato com o mundo. O correio foi e ainda é fundamental na divulgação do fanzine em papel, na comunicação entre leitor e fanzineiro. O blog, por sua vez, aproxima ainda mais o leitor do blogueiro (o novo fanzineiro) através da caixa de comentários, um espaço democrático usado tanto para críticas como para perguntas e/ou complementos ao assunto discutido. É uma nova realidade, uma nova forma de se comunicar. Ou, como diria uma antiga propaganda: o mundo a um toque do mouse. Mesmo.



* Marcelo Costa é um leonino do segundo decanato com ascendente em touro apaixonado por cervejas belgas, cachaças mineiras, picanha ao ponto, mixto quente com salada e bacon, pipoca do Cinemark e tortinhas de morango.
Editor do Scream & Yell, coordenador de capa do iG, DJ eventual, cozinheiro de fim de semana e centroavante nos moldes do grande Geraldão. Escreve sobre romances e cultura pop.

domingo, 4 de julho de 2010

Conteúdo Inteligente em Mídias Móveis

Foto por Phil campbell



por
Gilmar R. Silva


Notícias no celular, no painel do carro, no e-reader, no tablet, no vídeo-game portátil , em toda sorte de brinquedos e gadgets digitais .Informação disponível ao alcance do dedo indicador em qualquer lugar, nos cafés, na praça, no metrô, no campo, na praia, qualquer lugar.

Ok, esta ainda não é uma realidade brasileira, uma pesquisa recente, da consultoria Acision, apontou que apenas 3% dos brasileiros acessam redes sociais via telefones celulares. Mas acredito que em breve crescerá a exemplo da Europa, onde cerca de 13,7% dos internautas acessam as redes sociais pelo telefone, e dos Estados Unidos onde o número é ainda maior, chegando a 18,7% dos usuários. E a tendência independente da área do Globo é crescer cada vez mais.

O assunto é mobile, esqueça o papel, concentre-se nas telas digitais. Telas de diferentes formatos, tamanhos e tecnologias.Telas wide, verticais, circulares,telas que levaremos para todos os lugares. Telas médias (Ipad), pequenas (celulares), muito pequenas(relógios).Telas transparentes, touch-screen, "eye screen ", "movement sensitive" .

As mídias móveis ampliarão cada vez mais as maneiras como uma mesma notícia será apresentada. Características como a interação do receptor com o aparelho, o tamanho da tela, a velocidade de conexão e até mesmo a durabilidade das baterias terão de ser levadas em conta antes de uma publicação. O vídeo disponibilizado para um aparelho médio, a exemplo de um Ipad, será diferente do disponibilizado para um gadget menor, como um relógio. O tamanho de um texto para PC não se aplica a tela do celular. Assim como experimentos em 3D e Realidade Aumentada terão aplicações diferentes de acordo com cada plataforma.

Há pouco tempo pensava-se as mídias móveis, sobretudo os celulares, como uma plataforma propensa a atualizar a audiência quanto a serviços. Notícias breves e notas curtas como previsão do tempo, datas de campanhas de vacinação, índices da bolsa de valores, manchetes, curiosidades, placares de jogos de futebol, entre outros. Algo muito parecido com as legendas de canais de noticias como CNN, Band News, Bloomberg e RecordNews.

O jornal brasileiro o Estado de SP trabalhou recentemente em uma campanha de marketing três imagens, sendo elas, a de um jornal impresso, um computador e um celular.Abaixo de cada imagem lia-se respectivamente: amplie, questione e por fim atualize-se. O jornal pretendia com a campanha posicionar o jornal impresso como a melhor maneira de aprofundar-se nas notícias. A imagem do computador por sua vez trabalhava a idéia da web 2.0 , a troca entre o jornalista e o leitor, podendo este último interagir com o autor da matéria. Restava para o celular manter atualizado o leitor durante o dia, com notas curtas, cujo tamanho não ultrapassasse os caracteres de um sms.

No entanto smartphones e novas possibilidades como os Newsgames, a tecnologia 3G e investimentos em melhores navegadores para celulares já possibilitam uma navegação muito mais rica via celulares do que a simples a leitura de notas na tela dos mesmos.

E o futuro parece ser bastante promissor para as mídias móveis. Uma pesquisa realizada no final de 2009 pela Consultoria Morgan Stanley, apontou que num futuro próximo o mercado mobile será duas vezes maior que o mercado do desktop. Sendo assim existirá um novo mercado para os produtores de informação, e um novo mercado, constituído de mídias distintas, pedirá conteúdos diferentes, adaptados e alinhados as novas plataformas.

Considerando esse novo cenário será imprescindível ao jornalista entender que o receptor cada vez mais se portará de maneira agnóstica, isso porque acessaremos a internet ou qualquer outra rede que vier a ser criada ( é a web como a conhecemos também pode desaparecer), de diferentes plataformas e lugares. E entendendo esse novo comportamento do receptor, faz-se cada vez mais necessário a formação de profissionais que busquem otimizar a maneira como a notícias chegarão as pessoas.

Nick Bilton, designer, jornalista e pesquisador norte-americano, tem uma visão crítica a respeito dos sites de noticias e suas aplicabilidades nas mídias móveis. Para Bilton os atuais sites de notícias são “burros”.

A idéia do pesquisador parte do pressuposto que a maioria dos sites de notícias não sabe as nossas preferências nem o que acabamos de ler. Tão pouco as plataformas dos sites de noticia se comunicam.

Quando acessamos um site pelo celular na rua e depois voltamos a visitá-lo no mesmo dia no desktop de casa as notícias se repetem , isso porque o site, mesmo que tenhamos feito login nas duas visitas, não sabe quais notícias lemos, repete as mesmas matérias e manchetes, o que gera redundância.

Para Bilton falta integração e “inteligência” entre as plataformas. Uma vez que hoje existem tecnologias de geolocalização, GPS, sensores. Tais tecnologias aplicadas aos sites de notícias poderiam configurar uma nova maneira de como somos expostos as informações.

Um site inteligente identificaria a plataforma pela qual o acessamos, identificaria se o acesso está sendo realizado em trânsito ou parado, assim como gravaria na memória as noticias que lemos (nas quais já clicamos) modificando a home do site a cada nova visita do usuário.

O jornalista Tiago Dória em um artigo recente comentou como seria uma plataforma de noticias inteligente:

“Se eu estou num aeroporto, o site mobile deveria deixar em destaque notícias sobre voos e condições do tempo. Se eu estou em trânsito, o site deveria destacar mais notícias sobre tráfego e, quem sabe, ditar as notícias, já que estou com as mãos no volante e não posso ler.”

Temos então uma tendência se desenhando,uma tendência a espera de programadores e porque não jornalistas hackers que a coloquem em prática. Uma tendência na qual vale a  pena apostar, principalmente no que se refere ao futuro do jornalismo nas mídias móveis.Fica o conselho, atenção aos sites de “conteúdo inteligente” defendidos por Bilton ou “plataformas inteligentes” como prefere Dória. Daqui pra frente será cada vez mais, preciso pensar conteúdo adaptado ao aparelho, à ocasião e à localização do usuário.


*Gilmar R. Silva é jornalista. Entusiasta da cultura pop, da cultura digital, da cultura livre e da cultura DIY(faça você mesmo).