quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sábado, 11 de setembro de 2010

E-book para download

Capa das incríveis Mulheres Barbadas (@mbarbadas)


“Rodolfo Walsh, Ryszard Kapuściński, Joel Silveira, Gay Talese e Truman Capote que me desculpem, mas novo jornalismo mesmo é outra coisa.” Assim o jornalista André Deak abre o texto “Muito além do papel e da tinta”, escrito para a coletânea “Novos Jornalistas – Para entender o jornalismo hoje”, um e-book realizado de maneira colaborativa, licenciado em creative commons e disponibilizado para download gratuito. 

A coletânea reúne trinta e oito textos de profissionais da mídia brasileira (jornalistas e não jornalistas),  que apresentam de maneira descontraída as novas habilidades que os jornalistas modernos devem ter em decorrência das novas tecnologias advindas da internet e das mídias móveis.


Boa leitura!!!


Gilmar Renato da Silva 
Organizador e Editor




Baixe aqui e aqui


Obs: Em breve no formato E-PUB.




Realização:
www.laranjacomunicacao.com.br

O Editor na Era Digital




por
Gilmar R. Silva*



A Imprensa, sobretudo a escrita,  sofreu um duro golpe com a popularização da Internet. Se antes as pessoas dependiam da cobertura midiática para ficar a par das notícias, com a web 2.0 passaram a ter acesso a informação  por fontes gratuitas , bem como a produzir e divulgar conteúdo por conta própria.  E dessa mudança surgiu o questionamento: Por que pagar por informação se podemos obtê-la  de graça na internet?

Um problema para a mídia?Sim. Incontornável? Não.

Iniciativas como as do conglomerado  News Corp.( New York Times, do Wall Street Journal, da rede de televisão Fox e do tablóide britânico The Sun) do  magnata norte-americano Rupert Murdoch, já mostraram que é possível lucrar na web. O  The Sun, por exemplo, na internet já rende lucros maiores para a News Corp  do que sua versão impressa, enquanto que o  tradicional New York Times já vislumbra para 2011 voltar a cobrar por conteúdo na internet. Segundo   Arthur Sulzberger , presidente do NYT, os usuários terão uma cota (ainda não especificada) para ler os artigos gratuitos , mas  uma vez que  ultrapassem o limite , será cobrado uma taxa do leitor. O objetivo do grupo é fazer dinheiro com os leitores fiéis do jornal. Entre 2005 e 2007, o The New York Times possuía 200 mil assinantes, que pagavam uma taxa de 50 dólares anual.

Voltamos a pergunta: Por que pagar por informação se podemos obtê-la  de graça na internet?
A resposta é: pela credibilidade da informação.

Na sociedade da informação somos expostos a muitos conteúdos, inúmeras possibilidades de escolhas, sejam elas de mídia, entretenimento, trabalho ou aprendizado.

E isso gera uma angústia nos seres humanos. Antes as chances de uma pessoa errar ao escolher uma profissão, um programa de TV, um filme ou uma banda que lhe agradasse eram menores. Havia menos opções de profissões, de canais de TV  e de lançamentos cinematográficos e fonográficos. Hoje por sua vez existem milhares  de opções  em todas essas áreas e em muitas outras, o que coloca o ser humano em uma posição propicia ao erro muito maior.  

E o que faz o ser humano para minimizar as chances de fazer uma escolha equivocada? Submete seus interesses a filtros como os buscadores da internet (verdadeiros oráculos da era digital), a indicações de amigos nas redes sociais e veja bem a mídia especializada.

Daí a importância de uma empresa ou veículo de comunicação estar bem posicionado nas buscas do Google e o sucesso na mídia de matérias “Top Top”, que trabalham títulos como os “5 melhores  celulares 3G”, “as 7 melhores músicas da semana”, “os 10 livros mais vendidos”, “as 6 profissões mais lucrativas”, “as 100 melhores empresas para se trabalhar”, entre outras.

Por isso o jornalista,sobretudo, na figura do editor,  independente da revolução pela qual a mídia vem passando, ocupa um lugar importante na Sociedade Digital.Enquanto filtro, do emaranhado de informações ao qual somos expostos diariamente, cabe a ele avalizar o que é bom do que é ruim, e o que vale a pena ser repercutido do que não é relevante.

O excesso de informação trouxe consigo termos e preocupações novas como a info-obesidade, que dá conta de que ter acesso a muita informação sobrecarrega o ser humano, quando este não tem habilidade para lidar com o excesso. E para trabalhar com muita informação é necessário uma habilidade que não se aprende da noite para o dia,  mas no mundo contemporâneo tal habilidade é uma competência que se faz necessária, e  é largamente defendida por acadêmicos da área da Educação e da Comunicação.

Lidar com muita informação, conhecimentos díspares como os resultados da última rodada do Brasileirão e as estatísticas da última pesquisa da corrida eleitoral é comum para muitos jornalistas.  

Uma célebre frase do jornalista  Joseph Pulitzer diz que  “O jornalismo é a profissão que requer o conhecimento mais largo e profundo e os mais firmes fundamentos de caráter”.

Esse espírito carregado por muitos profissionais da mídia, é extremamente importante na era digital. Um bom editor, dá preferência a informações bem apuradas,  ricas em variedade e credibilidade de fontes. Tal cuidado deveria ser adotado por todos, uma vez que hoje as pessoas pautam seus julgamentos em buscas no Google, e muitas vezes sequer questionam se aquilo que obtiveram como resposta na primeira página é o melhor resultado, ou então se aquelas matérias “top isso”  “top aquilo”, são dignas de credibilidade ou meras propagandas maquiadas de notícia.

Ajudar as pessoas a combater a info-obesidade talvez seja o principal compromisso do jornalismo nos dias de hoje. E é na figura do editor que tal compromisso tem seu melhor exemplo. Um bom editor, quando livre de interesses políticos ou de natureza econômica (jabás/negociatas), e que tenha caráter firme, como diria o velho Pulitzer , dá credibilidade a informação. Apresenta-se como um filtro mais seguro em comparação com os sites de busca ou contatos do Facebook. O que garante pessoas melhores informadas,  e dependendo do alcance do  veículo de comunicação do editor ou de sua rede de conexões, uma comunidade mais crítica  e difícil de ser manipulada. Diria até uma  comunidade melhor.


*Gilmar Renato da Silva é Jornalista especializado em cultura digital e Educador em Áudio-visual, Novas Mídias e Cibercultura. Meia direita nos finais de semana, Owner da Laranja Pontocom e  enstusiasta da cultura livre, da cultura pop e da cultura DIY(Faça você mesmo).

Twitter: @Gilmar_

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Fotografia Digital*

Imagem do Flickr do Fotógrafo Urbano


por

Renato Targa¹


A definição do que é fotografia digital muito simples: um tipo de fotografia que usa tecnologia digital para registrar imagens, em contraposição à fotografia tradicional, baseada em um processo químico. O princípio físico da câmera fotográfica foi desenvolvido na Idade Média e já estava pronto desde o Renascimento, quando era explorada pelos ar-
tistas. A forma de registrar as imagens era desenhando, pintando ou talhando por cima da imagem projetada em uma superfície. A fotografia, que é um registro técnico dessa imagem projetada, só existiu a partir do momento em que algum tipo de suporte que gravasse a imagem automaticamente fosse criado. A primeira solução viável, no século 19, foi a descoberta de materiais sensíveis à luz que deveriam ser expostos e depois submetidos a um processo químico de revelação. E essa invenção transformou o olhar da humanidade sobre o mundo e sobre ela mesma.
                         
Atualmente, esse processo de revelação é que vem sendo substituído pelo processo digital de captura das imagens em seus mais diferentes usos. A indústria produziu vários tamanhos e formatos de filme para usos distintos, que representam diferentes resoluções. O mais popular e barato deles, o 35mm, é o que vem mais rapidamente cedendo
espaço para a fotografia digital. Já é mais barato fotografar com uma câmera digital, mesmo ela sendo bem mais cara que a câmera tradicional, por eliminar os custos de material e revelação. Também já existem boas alternativas para os formatos médios, bastante populares na fotografia de estúdio e publicidade. Porém, em sistemas de câmeras para
chapas de filme de grande formato, mais usadas em fotografia de natureza e arte, ainda não há opções digitais viáveis, por exemplo.

A fotografia sempre esteve relacionada a um registro de memória, para congelar um intervalo de tempo algo que pode ser visto (claro que há variações, em que a câmera grava um intervalo maior ou menor do que o olho normalmente registra, criando efeitos difíceis ou impossíveis de serem vistos).
                         
Fotografar tornou-se um hábito na sociedade, mais forte em algumas culturas do que em outras, mas presente em quase todas. Tanto pelo aspecto de preservação da memória, ou gatilho dela, pelas lembranças que a fotografia evoca, como objeto colecionável e que pode ser compartilhado. Quem nunca quis mostrar para alguém suas fotos? E também tornou-se uma forma de lazer bastante popular, assim como o turismo, que virou indústria importante na cultura contemporânea. Como diz Susan Sontag, em “Sobre a Fotografia” (“On Photography ”, em inglês):

Os turistas sentem-se compelidos a pôr a câmera entre sim mesmos e  tudo de notável que encontram. Inseguros sobre suas reações, tiram uma foto. Isso dá forma à experiência: pare, tire uma foto e vá em frente. O método atrai           especialmente pessoas submetidas a uma ética cruel de trabalho —alemães, japoneses e americanos. Usar uma câmera atenua a angústia que pessoas submetidas ao imperativo do trabalho sentem por não trabalhar enquanto estão de férias, ocasião em que deveriam divertir-se.

Pessoalmente, fotografar é um prazer, uma paixão. É uma forma de unir racionalidade e criatividade. Uma atividade em que eu ativo os dois lados do cérebro, para lidar com critérios técnicos e artísticos ao mesmo tempo. É a junção do olho com a mão, comandados pelo cérebro, trabalhando em sintonia para produzir uma imagem. Mais espontâneo quando comandado pelo olho, mais cerebral quando parte de um projeto, deuma série.

Usar uma câmera digital me permitiu duas coisas que alimentaram tanto o meu aprendizado como meu prazer em fotografar: o baixo custo por clique e o resultado instantâneo. Por ser conferido na hora, avaliando a imagem gerada e o histograma de luminosidade, eu consigo testar técnicas e efeitos na hora, refinando a exposição final, para chegar mais próximo da imagem que eu tenho em mente ao fotografar. Antes da fotografia digital, muitos fotógrafos usavam câmeras de revelação instantânea, como a Polaroid, como rascunho do trabalho que iriam produzir, para testar se a luz estaria adequada, por exemplo. Com a fotografia digital, dois fenômenos ocorrem: primeiro é o volume, tiramos
muito mais fotos, guardamos mais fotos (e também perdemos mais fotos, com a falta de back-up e organização); segundo é a divulgação. Enviar fotos digitalmente para alguém, que são cópias idênticas e gratuitas dos arquivos, é muito simples, seja por e-mail, seja transferindo para um disco ótico, rígido ou pen drive, assim como é relativamente simples e normalmente gratuito publicá-las na web.
               
Com a edição digital das imagens, a famosa “photoshopada”, algumas questões éticas do uso da fotografia surgem em alguns círculos, como o jornalismo, em que a manipulação é mal vista. Antes a fotografia era confiável, o fotógrafo é que poderia mentir. Porém, com o avanço tecnológico, a geração de arquivos RAW como se fossem exposições de filme não reveladas, que precisam de algum tipo de pós-processamento, seja na própria câmera, seja no computador, levam a uma contradição: a tendência é assumir que a foto pode ser uma mentira, mas a reputação do fotógrafo é que vai dizer se ela é confiável ou não, um questionamento que já ocorre em toda a representação interpretativa da realidade: sejam textos, pinturas ou desenhos. E o vídeo, que é uma sequência de fotos exibidas em uma frequência estabelecida, também migra para o mundo digital e passa pelo mesmo processo.


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.


¹ Renato Targa estudou engenharia por uns bons anos, mas formou-se em jornalismo. É
um dos funcionários criadores do UOL, empresa em que trabalha há 13 anos, onde atuou
nas mais diversas áreas: de jornalismo a análise de audiência passando, principalmente,
por programação de interfaces. Atualmente faz mestrado na ECA-USP pesquisando o
papel da fotografia em redes sociais online.



Twitter: @renatotarga


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Jornalismo Colaborativo*

Escolha suas ferramentas


por
Ana Brambilla¹


“Every citizen is a reporter.” Com esse slogan, o noticiário sul-coreano OhmyNews foi concebido em fevereiro de 2000 como um divisor de águas no jornalismo digital. A quebra do paradigma do jornalista como “detentor do lugar de fala” ofereceu ao cidadão leigo (sem conhecimentos de jornalismo) toda a engrenagem jornalística para dar aval à sua história: redação com editores em Seul para apurar informações vindas do mundo todo e o aval de uma marca de imprensa transformariam um simples relato do acidente da
esquina em fato jornalístico.

Assim, o jornalismo colaborativo (open source, participativo, cidadão...) vem sendo adotado por mais e mais veículos (da grande mídia ou especialmente criados para este fim). Pesquisa do Biving Groups com sites de jornais americanos mostrou que, em 2008, 58% das marcas já abriram espaço para UGC (user generated content). Hoje há correntes fortes de jornalismo colaborativo no Chile, Estados Unidos, Espanha, França, Itália, para citar alguns. É possível encontrar iniciativas semelhantes no Sri Lanka, Nova Zelândia, Iraque, Filipinas e Israel. No Brasil, veículos que se consolidaram no modelo de mídia de massa (unidirecional, onde somente o jornalista fala e o público escuta) lançam seus “braços colaborativos”, a exemplo do Eu Repórter (O Globo), VC Repórter (Terra), Minha Notícia (iG), VCnoG1 (G1), Leitor Repórter (Zero Hora e Jornal do Brasil), Meu JC (Jornal do Commercio - PE).

Os tipos de conteúdo requisitados ao grande público e veiculados nestes espaços variam drasticamente: vão de fotos de casamento a denúncias de má administração pública. A falta de um modelo ocasionada pela novidade da prática flexibiliza a proposta editorial de cada veículo. No entanto, todos já concordam com uma premissa: o filtro da redação.

Alvo de acusações de uma provável “censura”, a triagem de editores profissionais sobre o material submetido pelo público se torna necessária à medida em que tais espaços se propõem “jornalísticos”. Para tanto, o compromisso com a realidade ainda se sustenta. Realidade esta que se torna mais viável após processos de checagem de fatos, eventual correção de dados e adequação a uma linguagem de fácil
compreensão. Este é o trabalho desenvolvido por jornalistas profissionais em processos colaborativos e que distinguem o conteúdo publicado nestes ambientes do material levado a público em plataformas abertas como YouTube, Wikipedia, Flickr e grande parte da blogosfera. É aí que se diferencia jornalismo colaborativo de conteúdo colaborativo.

A curta trajetória e o caráter experimental das práticas colaborativas no jornalismo ainda deixam pontos a ser explorados e aprimorados. Com grande apelo à publicação de matérias, os braços colaborativos de grandes veículos pecam ao desconsiderar a importância de seus conteúdos. São raros os internautas que lêem as notícias produzidas por outros internautas. E por quê? A falta de destaque editorial pode estar entre as razões, mas certamente não encerra a escuridão onde o conteúdo produzido pelo público cai uma vez que é publicado.

Outra hipótese seria uma relação equivocada entre a abrangência (nacional) destes veículos e a relevância (hiperlocal) dos fatos ali relatados pelos cidadãos repórteres.
Rede é nicho e veículos consagrados em cobrir acontecimentos de grande repercussão certamente não serão lembrados por moradores de pequenas comunidades em busca de informações que interferem diretamente no seu dia-a-dia. Esta é a noção de “village reporter”, desenvolvida por Oh Yeon Ho, fundador do OhmyNews.

Em locais afastados dos grandes centros urbanos, antenas parabólicas em sítios de beira de estrada mantêm os moradores informados sobre as guerras no oriente médio e as variações na bolsa de valores. Porém, o desmoronamento de uma parede de rochas no caminho à cidade e a chegada de vacinas contra febre amarela no posto de saúde a 25km dali passam ao largo destes noticiários.

É aí que entra em cena o jornalismo colaborativo, um terreno fértil de experimentações e benefícios comuns.


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.

¹ Ana Brambilla é jornalista e mestre em comunicação, com ênfase em práticas colaborativas. É coordenadora de Social Media do porta Terra e owner do blog Libellus em http://www.anabrambilla.com


Twitter: @anabrambilla

Brecha Digital / Exclusão Digital*

Sunday de Edward Hopper


por
Rodrigo Savazoni¹


O termo brecha digital (digital divide), também adotado nos países que falam castelhano, nos ensina a Wikipedia em inglês, foi criado em meados dos anos 90 e seus principais difusores foram o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e seu então vice- presidente Al Gore.

A wikipedia em português, no entanto, não registra a expressão, porque ela não é muito difundida no Brasil. Por aqui, o termo que se convencionou utilizar para tratar do acesso desigual às tecnologias de informação e comunicação (TICs) foi exclusão digital.

Conforme aponta a enciclopédia colaborativa, no entanto, “os dois termos não são sinônimos perfeitos, pois enquanto exclusão digital se refere apenas a um dos lados da questão, brecha digital faz referência à própria diferença entre excluídos e incluídos.”

Tradução feita, este é, sem dúvida, um dos temas centrais dos embates políticos que ocorrem no Brasil contemporâneo, país de mais de 180 milhões de habitantes e que deve ter hoje, sendo bem otimista, cerca de 70 milhões de usuários da rede mundial de computadores (pesquisa Datafolha).

O acesso desigual às TICs pode ser verificado em desníveis territoriais, de renda, gênero, raça e acesso à educação. Conforme a maioria dos estudos apontam, é um elemento que acompanha e aprofunda o nível de exclusão e pobreza.

Um exemplo de desigualdade territorial é apontado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sua edição de 2007, o a pequisa aponta que cerca de 20% de residências do país têm acesso à internet. Nas regiões norte e nordeste, no entanto, esse número não chega a 10%.

Nos últimos tempos, com a veloz transformação das tecnologias, o problema se tornou ainda mais complexo, posto que atualmente não se restringe mais ao simples acesso à rede. A superação da exclusão digital atualmente passa pelo acesso à banda larga, à conexão de alta velocidade, que permite ao usuário uma experiência completa de uso da web (com downloads e uploads de dados).

Os esforços de inclusão promovidos pelo poder público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada têm ajudado a construir pontes sobre a brecha, reduzindo assim a exclusão digital. Entre elas, vale destacar a proliferação de lan houses, pequenos centros pagos de acesso a computadores em rede, e a ampliação do número de políticas públicas em âmbito municipal, estadual e federal.

Entre as políticas recentemente anunciadas – a qual foi recebida com júbilo pelos ativistas e militantes da inclusão digital – está a conexão de todas as escolas públicas federais até o ano de 2010, conforme acordado entre o governo Lula e as operadoras de telefonia concessionárias do serviço de telecomunicações em território nacional. Isso, no entanto, esbarra na inexistência de uma infra-estrutura pública de acesso à internet, que possa levar conectividade às regiões economicamente pouco atraentes.

Atualmente 2,4 mil dos 5,5 mil do Brasil têm acesso à banda larga, conforme dados do Atlas Brasileiro de Telecomunicações 2009. Esses municípios representam 145,5 milhões de habitantes, ou 77,7% da população nacional. Os números demonstram que quase 1⁄4 da população brasileira inicia sua trajetória em condições desiguais de acesso à cidadania na era da informação.

Se entendemos que a era digital traz benefícios para os seres humanos, uma de nossas lutas principais deve focar a extensão dessas possibilidades a todos que vivem neste planeta, a começar pelo nosso país.


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.

¹ Rodrigo Savazoni, jornalista, é diretor do Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e coordenador do Fórum da Cultura Digital Brasileira, iniciativa do Ministério da Cultura e da Rede Nacional de Pesquisa. Foi Editor de Novos Projetos do Estadão.com.br em 2008 e Editor Chefe da Agência Brasil, entre 2005 e 2007.


Twitter: @rodrigosavazoni

Ecologia Digital*

imagem por hlkljgk

 por
José Murilo Junior¹

A concepção hoje corrente sobre ‘meio-ambiente’, como algo a ser protegido por intermédio de uma mobilização social, não existe há muito tempo. A partir da segunda metade do século XX, o movimento que veio a ser chamado de ambientalista cunhou este conceito para abranger um conjunto de fenômenos que de outra forma pareceriam não ter nenhuma relação entre si: poluição, destruição de habitats, conservação, extinção de espécies, atitudes em relação à natureza, etc. O objetivo foi atrair o interesse de grupos diversos, que a princípio não teriam nenhuma afinidade, mas que vieram a formar coalizões significativas na popularização das causas ecológicas. O que poderia unir os caçadores aos observadores de pássaros, ou o doente de asma na poluição de São Paulo com o pescador de lagosta no nordeste?

Sabemos que o processo de formação dos movimentos sociais ambientalistas vai muito além da simples manipulação semântica. De fato, a mobilização teve origem nas descobertas da ciência sobre as frágeis interconexões dos sistemas vivos, em conjunção com as análises sobre externalidades econômicas negativas -- como por exemplo, a poluição gerada pelas atividades industriais, que por ser invisível (ou não facilmente
mensurável), teve seu custo social ignorado por muito tempo. A convergência dos dados oriundos de diferentes perspectivas aportaram ao nascente movimento ambientalista um conjunto de ferramentas conceituais e analíticas, o que permitiu o surgimento de uma profunda e eficaz crítica à ortodoxia econômica construída sobre a premissa do crescimento perpétuo. Desde então, questões ecológicas / ambientais ganharam influência permanente no debate global, e na formulação das leis que ordenam o impacto
das atividades econômicas sobre o meio-ambiente.

O advento da popularização das tecnologias digitais, em paralelo com a hiperconexão trazida pela Internet, criou o que muitos hoje chamam de ambiente digital. Neste espaço vimos nascer uma nova ecologia do conhecimento e da cultura, que tem gerado impactos significativos nos processos de acesso, produção, reprodução, distribuição e armazenamento de conteúdos. Este novo ambiente é, em última instância,
formatado pelo marco legal dos direitos de propriedade intelectual vigente. Na sociedade da informação, acesso ao conhecimento e à cultura, liberdade de expressão, criatividade digital, inovação científica e outros benefícios potencializados pela rede global dependem diretamente do reconhecimento da importância de uma esfera pública fortalecida. Entretanto, como resultado da pressão de setores organizados da indústria cultural, a evolução das leis que regulam os direitos de autor nas últimas décadas foi pautada pela ógica da sobre-proteção -- quanto maior o controle no acesso, por mais tempo, melhor.

A Ecologia Digital argumenta, de forma análoga ao movimento ambientalista, que devemos tornar visíveis as contribuições invisíveis do domínio público ao desenvolvimento da sociedade da informação. É fundamental que possamos demonstrar os “serviços ao ecossistema” prestados pelo reservatório vital de liberdade na cultura e na ciência. Este novo ativismo deve desenvolver um conjunto de ferramentas conceituais e analíticas
apto a revelar um melhor entendimento econômico sobre os processos de criatividade distribuída (open source), e uma análise mais refinada da importância do ‘outro lado’ da propriedade intelectual. Nesta perspectiva, o domínio público é vital para a inovação e a cultura, da mesma forma como o são os conteúdos protegidos por direitos autorais.

Os ambientalistas obtiveram êxito em demonstrar a importância da ecologia para a saúde humana, e a necessidade de um desenvolvimento sustentável. Cabe ao ativismo da ecologia digital promover uma perspectiva mais sofisticada sobre o necessário equilíbrio entre os direitos de propriedade intelectual e o domínio público. A missão deste novo ativismo é popularizar a visão de que, sob o paradigma da sociedade da informação, os processos de inovação se dão no âmbito da interação dinâmica entre as dimensões do conteúdo livre e do conteúdo protegido. Neste sentido, é necessária revisão urgente dos marcos regulatórios
de propriedade intelectual subordinados à lógica de sobre-proteção dos direitos de autor.

Assim como outrora foi criada a noção de ambiente, cabe agora ao ambientalismo digital (cultural) inventar o domínio público, antes de salvá-lo.


* Originalmente publicado no e-book “Para Entender a Internet”.

¹ José Murilo Junior se apresenta: Sou um blogueiro brasileiro. ‘Ecologia Digital’, o blog, foi lançado em 2002, e desde o início a idéia era registrar o ativismo digital que surgia em questões relacionadas a abusos na proteção de direitos autorais e manutenção das liberdades civis no ambiente da rede. Desde 2004 ocupo o cargo de Gerente de Informações Estratégicas no Ministério da Cultura, e o objetivo maior é desenvolver projetos open source dentro do governo, transformando possibilidades avançadas da web em política pública. Minha atividade blogueira me levou a conhecer o Global Voices Online em 2006, e além de fundar o GVO em Português, colaboro como editor de Língua Portuguesa no projeto. As blogadas em inglês ficam no ‘Eco-Rama’. Minha graduação é em Psicologia Clínica - CEUB, com passagens pela Sociologia e Filosofia na UnB. Fui guitarrista da ‘Banda 69’ nos anos dourados do Rock em Brasília (81 a 85), moro na comunidade Céu do planalto desde 1994, e tenho 4 filhos: Luiza (21), Gabriela (17), Miguel (16) e Elisa (3).

Twitter: @josemurilo