quarta-feira, 14 de julho de 2010

Visualização de Dados e Jornalismo

Tráfego no site do NYT no dia da morte de Michael Jackson



por
Fernanda Viégas e Martin Wattenberg

A marca do bom jornalismo é a capacidade de tomar uma grande quantidade de informações e escolher apenas as peças que realmente importam. Às vezes, isso significa encontrar uma pepita preciosa, por exemplo, escolher um único indicador que resume a agonia de uma crise econômica. No entanto, há temas tão complexoS que nenhum número pode fazer justiça; temas, onde centenas de números são necessários para dar aos leitores contexto. E é aí que entra a visualização de dados.

Visualização de dados é uma tecnologia que transforma números em imagens interativas, tornando-os facilmente acessíveis e fornecendo contexto. Imagine que você gostaria de dar aos leitores uma noção de como o mercado acionário indo, setor por setor, empresa por empresa. Você teria que saber o preço das ações e o valor de mercado de cada empresa, como estes preços estão se comportando (eles estão indo para cima ou para baixo? Por quanto?), E que as empresas pertencem a determinados setores. São centenas, senão milhares, de números. Nos velhos tempos (há uma década!) os jornais impressos traziam tabelas enormes desses números, geralmente com a fonte muito pequena, tamanho o número de informações.

Estas páginas eram uma espécie de cemitério da informação: embora os leitores se esforçasssem individualmente, eles não tinham como ter uma visão mais abrangente. A tecnologia da Visualização de dados permite que você "pinte" um retrato do mercado de ações mostrando todos esses números de uma vez. Martin Wattenberg fez exatamente isso em 1999 quando criou o Mapa do Mercado, uma visualização ao vivo na web , baseada em todas as empresas listadas na Nasdaq:



Aqui está uma captação possível: O Mapa do Mercado mostra centenas de empresas de capital aberto. As que estão em alta no mercado são verdes, os perdedores estão em vermelho. Empresas semelhantes ficam posicionadas próximas umas das outras, formando uma espécie de mapa do tempo da notícia financeira.

Você pode estar pensando que isso é material especializado, servindo apenas para cobrir os mercados financeiro e notícias econômicas. Mas não. Pode-se apurar de tudo, de guerras e catástrofes naturais à cultura pop, com visualização de dados. O New York Times é provavelmente o líder neste segmento, atualmente, e emprega mais de 30 pessoas em seu departamento de gráficos. A equipe tem liberdade editorial para produzir os seus próprios artigos que abrange uma vasta gama de assuntos, desde a guerra do Iraque até a morte de Michael Jackson. Estas visualizações permitem que os leitores interpretem melhor uma notícia , indo além da leitura simples de um artigo . Em uma visualização recente sobre Michael Jackson, por exemplo, os leitores puderam ver o top hits do rei do pop ao longo do tempo e compará-lo com os top hits de outros artistas como Beatles e U2. Esse tipo de visualização contextualizava a produção musical de Michael Jackson e ilustrava para o leitor o quão importante ele era no mundo da música pop.






No Brasil, alguns jornais já trabalham com a Visualização de Dados. O Estadão tem visualizado assuntos pesados como assassinatos nas grandes cidades, bem como temas mais otimistas como o desempenho histórico do Brasil em Copas do Mundo. Ao contrário do NY Times, o Estadão trabalha com gráficos criados por uma equipe da redação e de terceiros. E utilizar ferramentas de visualização de terceiros é algo recente. Disponíveis gratuitamente na web, ferramentas como o Many eyes e o Public Tableau foram projetados para permitir que qualquer pessoa possa fazer o upload de dados, visualizar e compartilhar gráficos interativos de graça na rede. De posse dessas ferramentas os jornalistas agora podem trabalhar suas informações lançando mão de diferentes opções , podendo experimentar e entregar aos leitores histórias com riqueza de dados de uma maneira mais fácuil de interpretar. Isso porque as plataformas de visualização são fáceis de usar, não requerem habilidades de programação ou que o profissional tenha uma vasta experiência em tabelas ou cáculo.


Se você resolver criar uma visualização de dados a partir do zero , você encontrará uma variedade de opções técnicas, como softwares. Entre eles o Processing, um conjunto de bibliotecas Java, construído para fazer gráficos interativos de programação mais acessíveis. O Flash uma outra escolha popular para criação de projetos interativos e bibliotecas como o Flare . E finalmente, Javascript o queridinho de hoje em dia porque ele é executado todos os browsers, assim como em plataformas móveis como o IPAD, da Apple.

Se você se interessou pela visualização porque os governos estão cada vez mais abertos, disponibilizando dados de maneira transparente ou porque você gostaria de dar aos leitores uma experiência mais profunda do que uma simples narrativa, saiba que a visualização jornalística veio para ficar. Estamos apenas no início da exploração, no que diz respeito a contar histórias com a visualização de dados. E aí, como você vai ajudá-la a evoluir?


* Fernanda Viégas e Martin Wattenberg são os fundadores do Flowing Media. Antes de fundar a Flowing Media em 2010, Viegas e Wattenberg trabalhavam no Laboratório de Comunicação Visual da IBM. O software que criaram, o Many Eyes, foi o primeiro a colocar as ferramentas de visualização avançadas, nas mãos de uma audiência geral. Sua visão de democratização da visualização fortaleceu jornalistas, empresários e cientistas quanto a contar histórias com os dados.



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