quarta-feira, 30 de junho de 2010

Jornalismo online ou agregador de conteúdo ?

Google News




por
Bruno Cardoso*


Segundo o Dicionário Aurélio Online, o verbo agregar significa: "reunir, amontoar, aglomerar/associar, anexar, juntar". Com essa definição, se considerarmos as expressões “agregador de notícia” ou “agregador de conteúdo” ao pé da letra, seria correto afirmar que qualquer jornal (seja impresso, digital, televisivo ou radiofônico), revista ou plataforma que publique notícias ou informações em geral é um agregador. Porém, na internet, o termo ficou popularizado para descrever programas ou sites que organizam as notícias provenientes de outros portais, jornais virtuais, sites ou blogs, de acordo com uma determinada lógica ou com os interesses de um determinado leitor/usuário, também recebendo o nome de “leitor de RSS”.


Inicialmente, descreverei de uma maneira bem simples como funciona um agregador, seja ele um software ou um website.


Primeiramente, um portal, site de notícias ou um blog qualquer disponibiliza o seu conteúdo, parcial ou integralmente, em um arquivo XML chamado "RSS feed", "webfeed", canal RSS ou "Atom". Se você quiser entender melhor o significado dessas siglas todas, visite a página sobre RSS da Wikipédia. Por enquanto, imagine uma página composta somente por textos e informações subdivididas em tags, que são compostas por um texto dentro de sinais “<” e “>”.


A idéia pode parecer confusa, mas, na verdade, não é. Por exemplo, o título de uma notícia em um arquivo XML ficaria de uma maneira próxima a essa: “O cachorro mordeu o homem”. Porém, é bom deixar claro que o XML foi criado para ser lido por computadores, mas, se um humano quiser, poderá entender o texto sem muita complexidade.


Assim, umagregador de notícias reunirá vários desses arquivos XML de diversos sites e os organizará de uma maneira lógica e simples para a leitura. A cada novo conteúdo publicado emonitorado por um agregador, o site seráatualizado automaticamente para o leitor final. Dessa forma, torna-se mais fácil acompanhar inúmeros websites de notícias sem a necessidade de entrar em várias urls, o que poderia tomar uma porção enorme de tempo.


Um bom exemplo de um agregador de notícias e, talvez, o mais conhecido deles, é o Google News, que teve sua versão beta lançada em março de 2002. Em 2009, o site já estava presente em cerca de 40 regiões e exibia notícias em 19 idiomas coletadas de quase 25 mil publicações espalhadas pelo mundo. Portanto, ao acessar o site do Google News em inglês, você tem contato com as principais notícias publicadas por quase cinco mil sites noticiosos em uma única página, divididas por categorias e permitindo que você escolha a ordem com que elas serão disponibilizadas em seu monitor. É bastante interessante e poupa um bom tempo!


Quem faz a seleção de o que é mais importante e do que merece maior destaque no caso do Google News são complexos algoritmos criados pela equipe da Google Inc, semelhantes aos utilizados na busca do Google, que levam em consideração quais notícias são mais acessadas pelo público em geral, quais foram mais citadas em outros sites, as que foram mais noticiadas em diversos veículos e tantos outros fatores que talvez nunca saibamos quais são.


Durante 24 horas por dia e sete dias por semana temos notícias atualizadas a todo segundo, com o que há de mais importante acontecendo no mundo. E isso ocorre graças aos computadores do Google, sem a necessidade do trabalho de um único jornalista. Difícil é conseguir tempo para ler tudo!


Outros agregadores permitem que o leitor selecione qual será a origem das notícias, viabilizando certa personalização do conteúdo de acordo com os interesses do usuário. Dessa forma, é possível acompanhar somente os sites que você mais gosta em uma única página. Por exemplo, se você gosta de esporte, pode cadastrar somente sites ou blogs que possuam conteúdos relacionados a esse assunto e, sempre que você checasse o seu agregador, lá estariam as últimas notícias desse tema. No entanto, apesar de filtrar somente os sites e blogs pelos quais você tem interesse, pode ser que nem todos os textos sejam realmente aproveitáveis. Por exemplo, se você gosta somente de futebol japonês e não há um único RSS focado nesse assunto, você teria que executar uma re-filtragem visual no seu agregador de notícias buscando quais notícias são relacionadas ao futebol japonês e não somente ao futebol em geral.


Para evitar esse “problema”, muito usuários vêm descobrindo que podem usar as redes sociais como agregadores de notícia. Dessa forma, as redes de relacionamento atuam como verdadeiros filtros de informações, divulgando somente aquelas que se mostram mais relevantes e condizentes com os gostos específicos de cada usuário. Em uma rede social como, por exemplo, o Twitter, o usuário pode seguir perfis com um gosto parecido com o seu. No caso do nosso exemplo acima, você pode seguir pessoas que também gostem de futebol japonês. Assim, sempre que alguém encontrar uma notícia interessante pode compartilhar o link em seu perfil, atuando como um filtro de conteúdo, exatamente como o algoritmo do Google se propõe a fazer, porém, de uma maneira mais racional e, por incrível que pareça, precisa. Isso porque, quando o assunto não é exato, nós humanos ainda somos melhores que as máquinas.


Limor Elkayam, fundadora do agregador de notícias iSpotAStory, disse,em entrevista ao Mashable: “Algoritmos computadorizados são ótimos, mas as pessoas ainda querem o elemento humano. Por isso que elas gostam de pegar notícias pelo Twitter. Há um humano por trás de cada uma delas”. Sabendo disso, o próprio Google se propôs a fazer uma experiência e colocar editores para selecionar e promover os conteúdos de seu agregador.


Infelizmente, há hoje quem confunda agregador de notícias com um cibermeio, mas isso não é de se estranhar. Ultimamente, os jornais feitos para a internet estão cada vez mais próximos aos agregadores de notícias, e não o contrário, como deveria ser. Seja de maneira clara ou não, a re-publicação de conteúdo parece ser cada vez mais corriqueira. As notícias desses jornais da internet são, na maioria das vezes, oriundas da mídia tradicional ou de outros meios digitais e transcritas ou reescritas, o que não faz muita diferença. Isso sem contar as agências de notícias que têm cada vez mais seus releases publicados na íntegra em diversos veículos, até mesmo entre concorrentes. A produção própria de notícias pode beirar o zero. É comum entrarmos em diversos portais diferentes e nos depararmos com as mesmas fotos, manchetes e, inclusive, os mesmos textos, sem alterar uma única vírgula.


Antes do advento da internet, as redações impressas chamavam isso de “cozinhar”, isto é, o jornalista que não conseguia uma boa pauta ficava na redação vendo o que os outros jornais estavam publicando e elaborava notas sobre o que encontrava de mais interessante. Na era do rádio e da TV, criou-se o termo gilete press, onde os locutores e apresentadores buscavam notícias na mídia impressa para criar montar seus boletins informativos. Hoje, no século XXI, podemos chamá-lo simplesmente de “CTRL+C / CTRL+V”.


Na minha concepção, um veículo, para ser considerado um jornal, requer a produção de conteúdo, e não somente a transcrição ou a edição de informação de terceiros. Porém, é muito comum encontrarmos na internet jornais online ou portais de notícias atuando de maneira semelhante ou igual aos agregadores de conteúdo. Hoje se faz, basicamente, a mesma coisa que se fazia no início do jornalismo na internet, que já completou mais de 10 anos de existência. Muita coisa mudou nesse período, no entanto, ainda não se descobriu qual seu papel diante das novas tecnologias. Cabe aos jornalistas o desafio de repensar sua atividade e usar as novas ferramentas para noticiar, de forma abrangente, os mais diversos assuntos, agregando alguma nova informação ao seu leitor.


É necessário investir em reportagens, visto que são elas que diferenciam um veículo de outro. Seria interessante que os profissionais da notícia aprendam um pouco com os “amadores” blogueiros e aprendam a utilizar melhor as possibilidades que a tecnologia oferece, como os hiperlinks e a possibilidade de diálogo com o leitor. E, principalmente, é preciso que os cursos de Comunicação Social se preocupem um pouco mais com o mercado que os futuros profissionais vão encontrar e os preparem com mais proximidade dessa nova realidade. Temos que pensar, refletir e decidir o que faremos com o Jornalismo Online, pois, as possibilidades são infinitas.


É necessário ter em mente que a quantidade de informação publicada a cada segundo na internet é imensurável. Você já deve ter ouvido falar em “overload” ou sobrecarga de informação, que é o resultado do fato de o internauta ser bombardeado 24 horas por dia e sete dias por semana com informações e dados. É impossível absorver e/ou utilizar tudo o que é publicado nessa verdadeira enxurrada de conteúdo, por mais “organizada” que seja. Portanto, é melhor perder um pouco mais de tempo e fazer algo que realmente valha a pena ser publicado ao invés de fornecer a mesma notícia que todos já leram em outros lugares.


Não digo que os cibermeios não devam se utilizar de sua instantaneidade e parar de fornecer notícias em primeira mão, porém, convém lembrar que existem muitos outros veículos fazendo exatamente a mesma coisa. Você só poderá se destacar se for capaz de acrescentar algo ao que todo mundo já sabe e agregar conteúdo relevante àqueles que lêem seus textos. Deixe que os computadores façam o trabalho de juntar todas as notícias em um único lugar, não há a necessidade de um jornalista para isso! Com certeza seus leitores vão agradecer.


*Bruno Cardoso é jornalista, tecnólogo da informação e pesquisador de novas tecnologias aplicadas à comunicação. Apaixonado por bits, bytes e palavras, quase um geek intelectual.

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