sexta-feira, 25 de junho de 2010

BarCamp e o jornalismo: um novo jeito de se produzir notícia?

Barcamp em Orlando
Foto por Hyku


por
Cleyton Torres*




BarCamp e o jornalismo: um novo jeito de se produzir notícia?

BarCamp em plataforma Open Space funciona de maneira muito simples, produtiva e sem a necessidade de muitas regras especificas para o seu desempenho. O método de organização é o mais simplório possível: proponha as ideias a serem debatidas, trace as grades e horários, rabisque os formatos e apresente. Isso mesmo, apresente. Uma das poucas regras da BarCamp é a de que todos os integrantes devem passar por todas as etapas juntos, discutindo, analisando, discordando e mostrado qual contribuição podem dar. Tudo isso junto e misturado. Tudo isso com um único propósito: colaboração.

Qual o paralelo que podemos traçar entre os cenários da BarCamp e o jornalismo? Simples: o jornalismo contemporâneo caminha para uma espécie de estruturação aberta, colaborativa, dinâmica e sem a tradicional hierarquização das redações dos grandes meios comunicativos comandando tudo por de trás das cortinas.

Hoje todos produzem para todos, e isso forçosamente faz com que o jornalismo precise se reinventar e se reestruturar perante os novos panoramas que lhe são apresentados. O jornalismo nunca foi acostumado com o modelo horizontal de produção de notícias. Aliás, nunca se acostumará só com esse modelo.

Até mesmo na BarCamp, onde a estrutura se baseia no mais não vertical possível, a figura do facilitador é essencial para o encaminhamento do processo. Muitos integrantes ao se inscreverem no projeto de “desconferência” esperam orientações de como agir e atuar, pelo menos em um primeiro momento. Só com o tempo é que adquirem a confiança necessária para exporem suas visões e contribuições de não especialistas para com os outros membros relacionados.

No caso do jornalismo, esse facilitador moderno se funde na figura do gestor informacional, pois ao contrário dos iPads e jornais impressos que você pode ter ou comprar, a ciência ainda não conseguiu provar a fronteira limítrofe do homem para a aquisição de conhecimento. Porém, provou que, sim, mesmo que vivamos em uma era denominada “da informação”, todo ser humano necessita da espécie de um mediador (facilitador, em outras línguas) para a continuidade do gerenciamento da informação e, com isso, a própria continuidade de uma sociedade democrática.

O jornalismo na plataforma BarCamp se baseia na construção não convencional da informação. Jornalista é jornalista, e isso o difere de maneira colossal dos outros profissionais de comunicação. Seu papel é o de mediador da sociedade, difusor da informação e facilitador da compreensão, só que agora se vê na necessidade de um conciliamento com centenas de milhares de novos integrantes, em uma estrutura de traços característicos do Open Space, analisando, palpitando, discutindo, delineando grades e horários, discordando e, principalmente, apresentando seus conteúdos de não especialistas.

E é esse o exato ponto com que o jornalismo atual está tendo sua maior problemática: saber somar sua produção qualitativa com as apresentações quantitativas dos outros membros da “BarCamp jornalística”. Produzir quantitativamente sabendo conciliar a qualidade apresentada pelos consumidores de informação. No novo modelo jornalístico, devem existir ideias e colaboração pautadas com as visões do gestor da informação, mas com os olhares daqueles que também ajudaram a construir as grades.

Hoje cada internauta tem um mouse na mão, e isso muda tudo. Mudam as relações imprensa e leitores, mídia e telespectadores. Cada pessoa é um membro em potencial para participar e discutir, propor e, talvez, apresentar ideias em um novo contexto de produção noticiosa. Na BarCamp difundida em 2005, nos EUA, e em 2006, no Brasil, os integrantes interagem e se informam em listas de discussão. Na “BarCamp jornalística” somente o bom senso é o limite, o resto fica por conta das redes sociais e portais jornalísticos.

Todo o processo de contato e gerenciamento pré-BarCamp é feito online, o que projeta uma luz de como o jornalismo pode agir no futuro. Colaboração e gerenciamento totalmente através da web, com múltiplos dedos e opiniões já são realidade. O que deve ser analisado e estudado é qual a maneira que possuíamos para reestruturarmos a nossa própria estrutura, provando que a revolução da comunicação digital não vai matar o jornalismo propriamente dito, mas sim o preconceito que a própria sociedade detinha com quem produzia notícia, ou seja, o jornalismo tradicional foi obrigado a reformular suas áreas não porque era ineficiente, mas porque, de uma vez por todas, a sociedade despertou novos hábitos e viu o quão fundamental é a sua participação direta na produção de conteúdo informacional e jornalístico. O mote, agora, é fazer parte não só dos resultados finais, mas participar, também, de todo o processo de criação.

BarCamp e jornalismo consistem na formulação de um novo conceito: o jornalismo comum morreu. O que temos hoje é a mais pura forma do jornalismo digital, o jornalismo que é feito através de recursos não analógicos para sua difusão em diversas plataformas e formatos de mídia, projetando um jornalismo essencialmente multimídia que nunca esteve tão aberto, não hierárquico e, principalmente, que nunca permaneceu tão online.


* Cleyton Torres é jornalista e blogueiro. Pós-graduando em História, também é pós-graduado em Comunicação, com ênfase em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing. É pesquisador de novas tecnologias, web 2.0, comunicação, mídia e jornalismo digital. É editor do Blog Mídia8!

Nenhum comentário:

Postar um comentário